domingo, 13 de julho de 2008

Um mundo em preto. E mais ou menos branco!

Havia negros por todos os lados.
Sentiu-se um peixe fora-da-àgua. E todo mundo o olhava como se fosse um mesmo. Sua pele clara e olhos azuis contrastavam com o negro predominante na maioria dos outros alunos.
Logo na entrada, encontrou-se com um velho amigo de infância limpando o corredor do curso de Direito. Lembrou-se dele, de como diziam que teria um futuro promissor, apesar de ser branco. E agora estava ali. Tanto potencial desperdiçado em um balde e esfregão.
Não entendia como o país podia ser tão racista, discriminador. A maioria branca e pobre era relegada a segundo plano, enquanto a minoria negra gozava dos benefícios do poder. Conseguiu a vaga na universidade pública por meio do "discutível" sistema de cotas para brancos. Ainda na primeira aula, sentiu o peso das desigualdades em um país continental. Um grupo de alunos negros, prejudicados pelas cotas, fizeram um barulhento protesto em frente à universidade.
Sentiu-se meio culpado, mas o que podia fazer?
Nunca teve oportunidade na vida e não podia perder essa porta de entrada para o ensino superior. Ainda mais no curso de Direito, onde a elite negra predominava. Quantos advogados ou juízes brancos existiam? O mínimo do mínimo!
Os brancos sempre foram tratados como seres inferiores, incapazes, mentalmente involuídos. Claro que nem todo negro pensava assim. Alguns intelectuais pregavam o respeito às diferenças existentes nos seres humanos e que todos deviam ser tratados de forma igual. Eram brancos, mas eram humanos em primeiro lugar. Todos eram humanos.
Entretanto a mídia era dominada pela "beleza negra". Os grandes atores, cantores e apresentadores eram negros. Os brancos eram sempre retratados como uns pobres coitados , marginais ou traficantes. Ser branco era como ser parte de um grupo à parte, portador de alguma doença contagiosa.
Por isso, o governo estabeleceu o programa das cotas pois era consciente de que o voto dos brancos também é válido. Não era uma solução, mas ao menos mascarava um pouco. E deixava os brancos mais felizes. As leis raciais também ajudavam a estabelecer a idéia de um país uniforme. Chamar alguém de "giz", "leite" ou qualquer outro termo discriminatório por causa da cor da pele era crime inafiançável.
E dessa forma, uma nação multicolorida estava sendo formada.

Só esqueceram de dizer que o racismo é uma coisa sem sentido. E sobre qualquer forma ou cor, trata-se da mais rudimentar burrice.
E nada mais além disso.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Nenhum comentário: