sábado, 29 de novembro de 2008

Mãos diferentes, Sombras iguais.

"Todo ser humano tem direito a ser alguém e tem direito a ter um bem do bom e do melhor."
(Gabriel, O Pensador)

"O sino da desumanidade do homem para com o homem não dobrará por um homem em especial, mas por qualquer homem. Dobra por você, por mim, por todos nós".
As palavras ao lado pertencem a Martin Luther King, ativista e pacifista negro que lutou pelos direitos civis dos negros norte-americanos nas décadas de 50 e 60. Luther King acabou sendo assassinado por causa de sua luta, mas suas idéias ecoam ainda hoje. O problema é que outras vozes tentam silenciá-las. A sociedade, estimulada pelo sistema capitalista comercial,cria datas especiais para "homenagear" as minorias ou incentivar o consumo. Como consequência direta cria-se a visão do "Dia". Isso causa comoção, atenção. Até pode causar reflexão, mas dificilmente gera ação.
E sem ação, as palavras são apenas palavras. O que não é bom. Palavras são o motor de qualquer ato. E os atos produzem mudanças. As pessoas acomodam-se nas datas comemorativas e esquecem de atribuir o valor devido a todo ser humano todos os dias.
Não é preciso esperar um dia especial para valorizar alguém. Ou para lutar por algum direito civil. Mulheres, homens, crianças, idosos, brancos e negros, todo ser humano é especial em qualquer dia do ano. E todos precisam de oportunidades iguais para crescer, viver, progredir. Somos residentes de um mesmo planeta e para melhorá-lo precisamos juntar as mãos diferentes, produzindo uma única sombra em comum.

Gilberto Nunes, professor de língua portuguesa.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

E agora? O que fazer com Artur Azevedo?

"99% de nossos alunos de nível médio estão entrando para a universidade (quando entram!) sabendo mais de Ronaldinho Gaúcho, que sobre o autor de A Capital Federal e 99,5% da população de um modo geral nem nunca ouviu falar sobre o indivíduo".

Ubiratan Teixeira, escritor maranhense.

A citação acima de nosso conterrâneo e talentoso escritor foi retirada de um recente artigo jornalístico. E ela nos leva a pensar sobre um problema sério, mas de real solução: A ignorância sobre a obra e pessoa de Artur Azevedo por grande parte de nosso povo.

Como isso é possível?

Não sei ao certo, mas algo ficou claro aos meus olhos. Artur Azevedo precisa ser conhecido. Não para o seu bem ou a sua glória. Isso ele já conquistou e ninguém há de tirá-la. Ele deve ser conhecido para o nosso próprio bem, para o bem da cultura brasileira. Suas peças, contos e crônicas são de uma atualidade impressionante. Elas ensinam, fortalecem e propiciam o crescimento de qualquer um que as lê.

É certo que por "conhecido" refiro-me a não somente saber o seu nome. O belo Teatro na rua do sol já faz isso muito bem.

Conhecê-lo é ler seus textos, estudá-los, transmiti-los a outras pessoas. Principalmente às gerações mais novas. Como educadores que somos, temos não só o desejo mas até mesmo a obrigação de assim fazer.E num País e Estado, onde pouco se valoriza o que é nosso, da terra, Artur Azevedo deve ser visto como aquilo que ele sempre foi e o é para os poucos que têm acesso aos seus escritos: um patrimônio literário nacional. Não é apenas para ser celebrado, lembrado. Deve ser, principalmente, lido. È a leitura daquilo que ele escreveu que vai nos ajudar a tornar sua memória sempre-viva e presente, não só no seu centenário de ida para a eternidade, mas todos os dias.

Enfim, o mais adequado não é perguntar "O quê fazer com Artur Azevedo?".

Mas sim, "O quê Artur Azevedo pode fazer por nós?".

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O que eu aprendi com Mc Catra.

O homem e a mulher têm biologias diferentes. O homem tem mais testosterona, mais tesão. Por isso, ele pode ter várias parceiras de uma vez. Isso não é traição. È a biologia.

A conclusão acima, "brilhante" por sinal, pertence a um arremedo de cantor chamado Mc Catra. Aquele mesmo. O cara do "vai rolar um adultério". Em mais um edificante(?) debate no programa Superpop( só podia ?), o falastrão do Catra, que diz possuir várias esposas( poligamia é crime, mas o gênio disse que não tá nem aí.Ou seja, o cara é um ótimo exemplo para as gerações mais novas!!!), defende sua nova criação que eu não ouso chamar de música: o passar "cartão de crédito" na bunda da mulher filé ou de qualquer outra dessas mulheres-objetos do funk. E isso foi só o começo.
Tenho três décadas de vida e já vi e ouvi muita coisa. Mas o Catra foi de lascar. Foram tantos absurdos ditos que fica impossível citá-los. E Catra é apenas um.
Existe uma variedade de cantores( se bem que me incomoda ter que chamá-los de "cantores") que descaradamente usam o sexo como tema para vender cd's e se destacar no competitivo cenário musical.
Mas o Catra vai mais longe ainda. Uniu, de um modo absolutamente grosseiro, religião e sexo. Segundo o mesmo, suas composições são abençoadas pelo Deus vivo.
A desgraça maior é que personagens como o Mc Catra existem porque fazem parte de um esquema comercial que não dá a mínima para a qualidade ou conteúdo do produto musical. O que vale mesmo é o lucro obtido. O dinheiro conseguido, de forma honesta é verdade, mas nem um pouco honrosa. São as engrenagens do Capitalismo movendo o mundo em que vivemos.
Entretanto não quero viver em um mundo onde as bundas simbolizam o que há de melhor na mulher. Onde seres humanos não passam de pedaços de carne. Onde personagens como Mc Catra fazem relativo sucesso com músicas que tratam a mulher como se ela fosse um troço descartável.
Por isso, lutamos por uma sociedade diferenciada onde a Educação seja prioridade na luta por um mundo melhor. Sem mulheres-frutas ou "cantores" desmiolados.
Porém, infelizmente, o funk de Catra e seus amigos vai continuar tocando. É um dos males da nossa inexistente democracia. Mas independente das asneiras ditas pelo "polêmico" Mc, sempre haverá espaço para escritos como este ou para músicas de qualidade comprovada, que valorizem a mulher e não apenas uma parte de sua anatomia.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

sábado, 11 de outubro de 2008

As Palavras voam. Os Escritos permanecem.

Verba volant, Scripta manet – As palavras voam, os escritos permanecem.

O provérbio latino acima, retirado de um dos inúmeros contos do versátil Artur Azevedo, sintetiza o imenso valor literário e histórico dos textos produzidos pelo mesmo.
As Letras brasileiras, e não só as maranhenses, foram agraciadas pela presença deste ilustre teatrólogo, contista, poeta, jornalista e (por que não?) conhecedor como poucos da alma e costumes dos homens de sua época.
E da nossa também, uma vez que seus escritos permanecem atuais.
O leitor de Azevedo se vê no decorrer do texto lido. E levando em conta que o país, de lá pra cá, descontando-se as devidas peculiaridades temporais, continua o mesmo em essência, é possível entender essa atualidade. Quantas "Lolas", "Eusébios" e "Lourenços" não há por aí, e não só na "Capital Federal", mas em cada canto desta nação? E o drama vivido em "O Escravocrata", apesar das leis abolicionistas, reflete ainda na vida de muitos brasileiros, negros e brancos, sob a pesada carga do trabalho escravo moderno. Mas há também a malandragem inócua(?) do Borba, a persistência do apaixonado Isaías e seus divertidos anexins, a esperteza do pacífico boticário que com uma singela pílula resolveu um possível conflito de morte.
Isso é Artur Azevedo.
O Brasil é Artur Azevedo. Em todos os contos, artigos, poemas e peças.
E ainda que para alguns o autor não seja um Machado nas Letras, Artur construiu com sua brilhante pena pilares literários críticos, cômicos, azedos e de igual quilate ou até mais do que os do bruxo do Cosme velho.
Textos que ontem e hoje fazem o Brasil pensar, chorar e rir de si mesmo.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Quando a vida resolve esclarecer as coisas.

A vida tem uma maneira estranha de esclarecer as coisas, de abrir os nossos olhos, de "dizer não".
Às vezes, demoramos para entender o recado pois nem sempre evidências são tão claras, mas logo a vida dá um jeito de chamar nossa atenção, e quando isso acontece, quando a vida decide ser um pouco mais incisiva, um pouco mais objetiva, aí é que a coisa complica. Ela não vai querer se importar com nossos sentimentos, não vai querer saber se vamos ficar decepcionados, tristes ou deprimidos. O que ela quer é esclarecer as coisas, nos mostrar aquilo que podemos e não podemos fazer, mesmo que seja algo que desejamos muito.
Às vezes, também a vida deixa passar, deixa que você "curta o momento", porque ela sabe que logo vai passar e sabe esperar o momento certo para te colocar contra a parede, te mostrar o erro, aquilo que você não queria enxergar. E então, estando ou não preparado, lá vai a vida abrir os seus olhos, e na maioria das vezes, o que se vê não é nada agradável.
Às vezes ela te impõe condições, te dar várias opções só pra te confundir ainda mais. Ela sabe que você tá tentando seguir um caminho, então ela coloca à sua frente, "na contramão", algo tentador. Te faz querer aquilo. Tenta-o para que você siga um outro caminho. Faz parecer bom, mas só no começo. Depois que você muda de caminho é que percebe as imperfeições existentes nesta estrada, os obstáculos nela e que só vão te prejudicar.
Não entendeu o que eu disse? Eu falei que é complicada a maneira que a vida tem de abrir os nossos olhos.
Somos imperfeitos.Nem sempre dá pra evitar. O que temos que fazer é viver a vida, prestando atenção a todos os seus movimentos, porque quando ela resolve esclarecer as coisas...

Herryson Carvalho, meu aluno genial da 8 série.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Começo e Meio.

Quantas vezes o futuro vai me enforcar?
Até quando vou te ver sem poder te tocar?
Quando vai esquecer que eu estava dormindo na hora em que você dizia que me amava ao pé do ouvido?
Por que essa transparência na hora em que mais preciso?
E onde meu corpo vai cair nesse precipício?
Quantas vezes nossos caminhos vão se cruzar?
E eu não vou ter coragem de te falar.
Espero essa noite passar assim como espero sua felicidade ainda que para mim isso custe a eternidade. Ainda que prevaleça a saudade. Ainda que leve consigo todas as respostas e que o passado afaste de ti todas as minhas lembranças. Ainda que para mim custe voltar à infância.
E quando o vento parar, o calor voltar, espero tudo isso congelar. Apenas pra dizer que você tem tudo, todo o meu mundo e que toda essa tempestade se acabe com apenas uma frase: "felizes para sempre".
Caso contrário, isso não passará de um poema.
E nada mais.

Escrito por Pedro Henrique, meu querido irmão e aluno.

domingo, 21 de setembro de 2008

O Futuro no/do presente.

Nosso futuro até pode ser incerto.
Mas é construído por meio de nossas ações do presente.
Uma virada pra esquerda em vez da direita. Uma escolha tomada em vez de outra. Um caminho trilhado em vez de outro. São pequenas ações que podem fazer a diferença no futuro que teremos pela frente.
Mas como tomar decisões certas? Como saber se elas são as melhores possíveis?
Eis o problema! Não sabemos!
Não podemos saber até que as consequências nos atinjam. E cabe a nós, o difícil peso de tomar decisões. E independente da idade, elas sempre são difíceis. Podem mudar o rumo de nossas vidas ou mantê-las em um destino já estabelecido.
Espere um pouco! Já estabelecido?
Essa é a grande questão a se pensar. Podemos interferir no futuro ou tudo já está traçado e somos atores vivendo uma peça escrita?
Seja como for, uma coisa é certa: toda ação possui uma reação equivalente.
Por isso é importante pensar antes de agir. Pensar não só no agora, mas no depois.
E ao reconhecer um erro no caminho, tenha humildade e força de vontade, não para tentar apagar o que está errado, mas para corrigi-lo.

Gilberto Cardoso, professor.

sábado, 13 de setembro de 2008

O Lobo mau não anda nas florestas!

"Sabe quem está falando?"
Espere um pouco! A frase está meio desatualizada. Vamos modernizá-la.
"Sabe quem está teclando?"
O Mundo mudou. E a comunicação entre as pessoas também.
Tornou-se mais impessoal. No apertar de uma tecla. O problema é não saber quem está do outro lado. Não saber quem está falando de verdade.
Nos últimos anos, os crimes via Internet cresceram de forma assustadora. Vivemos a onda do relacionamento digital. Amaldiçoados sejam os que não têm perfil no Orkut. Que sejam banidos os pobres-coitados que não usam o Msn. O analfabetismo digital virou uma praga a ser combatida.
E por causa disso, as portas de nossas casas podem estar abertas para visitantes indesejados.
É como a velha fábula da "Chapéuzinho Vermelho" transportada para o século atual. Apesar dos constantes avisos, ela insiste em ir pelo caminho da floresta. Entretanto, em nossos dias, os "Lobos" não habitam a selva.
Estão on line.
E podem ser detidos através do toque em uma tecla. Por mãos conscientes e mentes pensantes.

Gilberto Cardoso, professor.

Chinismo!

O Mundo abriu os olhos em direção a China não fez o mesmo. Acabaram-se as Olimpíadas e uma pergunta ficou no ar: Valeu a pena?
Se o objetivo era mostrar superioridade no campo desportivo e ostentar um invejável poderio econômico, as Olimpíadas valeram e muito. Mas e o tão celebrado "espírito olímpico?" Ele consegue resistir aos diversos ataques aos direitos humanos cometidos pelo governo chinês? Exploração de mão-de-obra operária, a ocupação e opressão ao Tibete, a "muralha chinesa" sobre a Internet e outros meios de comunicação, tudo isso nos leva a questionar o valor dos jogos de Pequim. Afinal de contas, suprimir a liberdade em troca de um show para ficar na história é o preço a se pagar?
Essa é uma questão a se pensar.
Os jogos olímpicos já foram usados como bandeira política no passado, mas o último foi mais do que isso. O que incomoda mais é a atitude conivente, passiva, das grandes potências. Tudo pela oportunidade de lucros avantajados no mercado chinês, que abriu-se sorridente para o Capitalismo.
Isso é cinismo.
No mais alto grau. E com consequências sérias. Não só para um país, mas para a humanidade.

Gilberto Cardoso, professor.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vou colar em Lula!

Apesar de tudo, o povo ama Lula.
Tá certo que o "povo" na verdade é a massa de brasileiros humildes e trabalhadores espalhados por nossa imensa nação e que os mesmos, por falta de uma educação de qualidade, não têm consciência crítica pra enxergar o que há por trás dos discursos populistas e da cara de pobre do nosso presidente. Mas ainda assim, ele é amado. Foi blindado pelo povo. Podem chover denúncias de corrupção, mas elas não grudam em Lula. O cara sempre sai ileso. É quase um Superman da política brasileira.
Quase.
E é por isso que tanta gente quer colar em Lula. É até interessante isso. Anos atrás, a simples menção do "Barbudo comunista do PT" faria alguns candidatos sairem correndo. Hoje em dia, a correria continua. Mas em direção a Lula. Correm para figurar ao lado dele numa foto, para aparecer colado com ele em alguma manifestação pública. Na verdade, descobriu-se que Lula não é humano. É uma mina de ouro. Um objeto valioso que traz sorte, benefícios para quem se utiliza dele.
Em nossa cidade, "Oposição" e "Situação" estão com Lula. O verdureiro e o filho do deputado também.
E eu vou colar em Lula, é claro.
Pessoas desconfiam da minha integridade moral, da minha honestidade? Nada que uma foto ao lado de Lula não resolva. É tiro e queda pra restaurar minha credibilidade ameaçada.
Minha esposa desconfia de minhas constantes saídas noturnas? Basta mostrar minhas credenciais lulistas para o amor eterno reinar em meu lar.
Acredito que todo brasileiro deveria ter uma foto de Lula para colar em casa. O país não iria mudar, mas uma onda de otimismo iria varrer a sociedade.
Sociedade unida, melhor e ... colada em Lula!

Gilberto Nunes, professor.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Por alguns segundos apenas.

Hoje, me sinto bastante incomodado.
Um aluno, geralmente maduro e com cabeça no lugar, cometeu um erro que poderia ter consequências maiores não fosse a provisão de Deus.
E o que me incomodou não foi o erro em si, já que como somos humanos somos sujeitos a cometê-los. O que mexeu comigo foi a fração de segundos em que uma decisão errada é tomada e as consequências que advêm dela. O que aconteceu com o menino citado acima é apenas uma prova de que ações impulsivas podem trazer problemas a todos. E tudo em segundos apenas.
Deixamos que as emoções tomem conta, substituímos a razão e pronto. Erro cometido, mas que poderia ser evitado.
Hoje, um problema maior foi evitado, mas quem garante que amanhã vai ser assim?
Nossa geração é estimulada a violência constante, quer por filmes, quer por desenhos ou quaisquer outros programas de televisão. E o que nós, Pais e Educadores, fazemos? Ou devemos fazer?
Ficar parados observando a vida passar? Lamentar a atitude perniciosa de nossa juventude? Ou simplesmente lavar as mãos?
Penso de outro modo.
Ensino adolescentes na faixa dos 12 aos 15 anos e sei que eles podem gerar resultados excelentes se forem estimulados a tanto. Podem fazer maravilhas se forem bem orientados. Mas também são capazes de atos terríveis, como qualquer outro ser humano , se forem deixados sem orientação, sem um guia para direcionar a vida. Daí, a grande importância do diálogo. Especialmente, nessa faixa de idade. É através do diálogo que podemos resolver diferenças, construir caminhos, quebrar barreiras. Há muitos meninos e meninas por aí que só esperam uma oportunidade para falar, para ouvir. Para sentir-se amado ou amada.
Criancas que são amadas geram tornam-se adultos amorosos. E isso é fato comprovado.
Conversando com meu aluno, deu pra perceber aquele brilho nos olhos típico de alguém arrependido, mas com dificuldade de reconhecer o erro. E naquele momento, uma convicção veio em minha mente: eu amo o ensino. É por isso que sou um educador. O salário nunca vai ser dos melhores, mas não há dinheiro no mundo que pague a sensação de ajudar alguém, de dar apoio a alguém. De mostrar que sempre existe uma outra opção, além daquela que nos é mostrada pela sociedade desigual em que estamos inseridos.
Acredito que meu querido amigo aprendeu uma lição hoje. Talvez seja difícil colocá-la em prática, mas o crescimento humano começa pela conscientização do que nós somos e do que podemos ser. E alguns segundos podem fazer a diferença, mas também podem ser a linha divisória entre a imaturidade e o amadurecimento.
Que Deus abençõe para que o segundo sempre reine sobre a primeira.


Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 9 de agosto de 2008

A Prova não prova... mas aprova. E reprova!

Começou a temporada de caça. Caça às notas.
E é cada um por si e a "pesca por todos. Ao menos, é assim que funciona na maioria das escolas.
Por quê?
Não é complicado achar uma resposta. Quando a Educação("trazer para fora") é trocada pelo ensino("de fora para dentro"), o que fica é a sensação do Não-Saber. Não sabendo, você abraça a decoreba. Decoreba que é descartável, limitada e que não desenvolve a mente.
Ela rende aprovação, mas não traz conhecimento.
Entretanto quem está preocupado em obter conhecimento? O que importa é a nota! Você nota?
Compreende o que permanece por trás dessa maneira de pensar, de ensinar?
Essa prática gera "alunos", pessoas sem luz que precisam de notas padronizadas por um sistema educacional para se sentirem completos.
Entenda bem. O problema em si não é a prática da avaliação, mas a maneira como ela é encarada por professores e alunos. Ela não deve ser tábua de salvação para os estudantes e nem deve ser instrumento de punição para o professor usar no controle da turma.
Ela é parte de um processo educacional realizado diariamente na sala de aula.
Não deveria existir um "tempo de provas". Essa prática só condiciona as pessoas a serem "alunos". Pense um pouco e liberte-se da "tirania das notas".
Tenha cada aula como uma oportunidade de crescimento e os resultados esperados virão como consequência.
Enquanto uma mudança da atitude não acontecer, provas irão continuar aprovando, reprovando e condicionando. Fazendo com que você tire "dez" e coloque "zero" no tão precioso depósito, que é sua mente.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 3 de agosto de 2008

Será que ele é??? E se for, muda alguma coisa???

Sabe aquele talentoso galã da novela das oito? O cara corta dos dois lados
E aquele carismático apresentador da TV? Descobriram recentemente que ele é muito "delicado".
Sim, mas e daí?
Desde quando opção sexual interfere na capacitação profissional ou no talento de alguém?
Sabemos que não. Porém o que mais se vê é esta associação equivocada.
E isso tem nome: preconceito. Que se não for contido, vira homofobia. O que independentemente da crença religiosa não é algo bom
O preconceito sexual é apenas mais uma faceta de um velho problema da humanidade : a falta de tolerância para o que é diferente .
Sempre defendemos uma bandeira. A bandeira do respeito para com tudo e para com todos.
E respeitar não é necessariamente concordar. Mas sim procurar entender quem pensa ou age diferente de nós.
A intolerância manda que minha crença, meu modo de pensar sejam impostos a todos. O bom senso ensina que o Outro tem direito de pensar diferente de mim e eu tenho o dever de respeitar esse direito.
E por mais difícil que seja para alguns aceitarem este fato, não somos Deus. Somos criação dEle. Todos nós.
E cabe a Ele julga o que fizemos ou deixamos de fazer

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Não quero virar estatística!

Números. Estamos cercados de números por toda parte. E eles não são nada animadores.
O trabalho infantil cresce assustadoramente. Milhões de crianças ainda estão fora dos bancos escolares. E a violência de nossas grandes cidades assemelha-se a de países que vivem em constante guerra civil. Tudo isso pode ser resumido em números. Números que mostram a dura realidade brasileira
Mas eu não quero virar estatística. Ninguém quer.
Estatísticas são frias, desumanas até. São números que representam vidas, que por alguma razão, forma encurtadas. Por trás de cada algarismo, há uma história de vida.
É interessante notar que não percebemos isso. Olhamos para os números e só vemos... números!
Algo até compreensível dada a falta de sensibilidade dos nossos tempos modernos.
Mas vejam só a história de Roberto. Um jovem pai de família. Trabalhador honesto. Cumpridor de seus deveres cívicos. Morto por uma bala perdida.
Roberto tinha uma vida, uma história. Virou um número. Mais um componente de uma enorme lista ( que cresce a cada dia) que mostra o tamanho do caos da violência no país.
E Roberto vai continuar sendo um número, até o momento que você se aproxima e vê as coisas mais de perto. E descobre as vidas por trás dos números.
Eu não quero virar estatística.
Mas sei que sou sujeito a ser uma, enquanto os governantes desta Nação continuarem a tratar o povo como números de uma lista. Lista bastante usada em épocas eleitorais para manipular a massa de votantes desconhecedores da própria realidade que os cercam. Realidade que transmutada em números revela quão dura é a vida em um país em que pessoas nada mais são do que futuras estatísticas.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

O homem dentro do sistema.

E aí? Capitalismo ou Socialismo? Com quem você vai?
Olha que a disputa é antiga. De um lado os amantes do Capital. Do outro, os sonhadores defensores do bem comum.
Mas quem matou mais?
É difícil contabilizar. Ambos, "capitalistas" e "socialistas" são culpados por uma longa lista de genocídios, de forma direta ou indireta. E que matou não foram as idéias. Foram os homens por trás delas.
Idéias são abstratas. Não podem ferir. Homens, ao contrário, matam idéias. E pessoas também.
Acredito no Socialismo. Não na tentativa ditatorial da Ex-União Soviética ou do absurdo do governo Chinês. Creio no valor das idéias socialistas de Marx e outros que sonharam e sonham com um mundo mais justo, igualitário. Ainda que nenhuma nação tenha conseguido colocá-la em prática, a visão socialista é possível.
Por outro lado, há necessidade do Capitalismo. Não o selvagem, descontrolado do nosso tempo atual. Mas sim, o equilibrado, que gere competição igualitária. Embora alguns achem que isso é impossível.
Ao meu ver, o problema está no homem. Ele é o problema.
O homem dentro do sistema( qualquer um dos dois) é que comete atrocidades que chocam a todos. Por isso que mudar o modo de produção do país não adianta enquanto não se muda os homens por trás dele.
É até irônico ver os dois lados disputando pra ver quem é o melhor. Ou o pior. Mas no final das contas, são todos iguais. Somos todos iguais. Com nossas dores e amores. Sonhos e temores.
E vemos a imagem do oposto refletida em nosso espelho.

Gilberto Cardoso.

Sem anos de solidão.

Em um ato de sincera admiração, tomei emprestado o título da obra do fantástico Gabriel García Marquez. Uma simples troca de letra vai servir. García Marquez contou a envolvente saga da família Buendía. E ganhou um Nobel por isso. Minhas pretensões são menores, é claro. Mas o empréstimo serve para pensarmos sobre nossa vida em sociedade.
Há uma reclamação constante em nosso meio. A de sentir-se só apesar da grande multidão ao lado. A solidão é um mal que acomete sem fazer distinção de idade ou classe social. É estimulada pelo individualismo crescente dos nossos tempos. É o "cada um por si" que não consegue mais satisfazer nosso desejo interior de estar junto ao outro. Todos temos essa carência do próximo. A tecnologia atual, por mais contraditório que possa parecer, pode acabar por separar em vez de nos unir.
Nada deve substituir o toque, o ver nos olhos, o abraçar alguém. Isso é estar vivo. É viver. É vida.
E a vida é pra ser vivida na coletividade. E sem anos de solidão.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

As Prateleiras do Mercado.

Somos produtos no mercado.
Eles se aproximam. Olham pra nós. Analisam a embalagem. E nos levam embora.
Assim é no Mercado de Trabalho.
Sempre cismei com essa expressão. "Mercado de Trabalho". Na minha mente vem a imagem de imensas prateleiras, carregadas de produtos. Todos com alta qualidade e preparados para o consumo. Todos à espera de compradores.
Mas minha cisma não adianta muito. Também faço parte deste mercado. O que incomoda é ser um "produto". Produtos não têm vida. Não têm sonhos. Não têm um futuro. São utéis até o momento em que cumprem sua função. Depois são descartados. Trocados por outros.
Como educadores que somos nossa função é orientar as novas gerações. Prepará-las para a vida futura. Não são "produtos" em potencial. São pessoas que ensinadas de modo adequado, humanitário, farão parte da sociedade como agentes modificadores e não somente produtos em uma prateleira.
Educação para a vida deve ser prioridade em nossas escolas. Ensinar o valor da honestidade, da solidariedade, do amor ao próximo é fundamental para uma visão de vida mais afinada com o mundo que queremos. Ou deveríamos querer.
Entretanto, é interessante notar como somos levados a pensar de outro modo. Desde pequenos, a visão do "cada um por si" é jogada para nós. Ajudar o colega ao lado? Nem pensar! Ele é meu concorrente e pode pegar meu lugar.
É disso que estamos falando. Essa visão movida pelo modo de produção capitalista transforma todos nós em adversários uns dos outros.
Só o Mercado é que sai ganhando desse modo. As pessoas não.
Infelizmente, as prateleiras do Mercado sempre vão existir. E você sempre será visto como um produto à disposição.
Porém, a vida é muito mais do que isso.
E você é muito mais do que uma mercadoria à venda nesse imenso Mercado que nos cerca.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Pior do melhor.


Pense rápido! Quem são os melhores alunos da sua sala? Quem os rotulou de "melhores"? Você é um deles? Quer ser um deles?
Antes que você responda, medite um pouco na origem dos conceitos "melhor" ou " pior". O que torna uma coisa melhor do que a outra?
Quais os critérios usados para a construção do rótulo "melhor"?
Imagine que você possui uma caneta e é feliz com ela. Entretanto, vê o anúncio de um novo modelo com filmadora, com capacidade de tirar fotos digitalizadas e até mesmo com acesso rápido a Internet. Você percebe que o seu modelo é ultrapassado. Ainda escreve bem, mas o outro é "melhor".
Este conceito de melhor é sustentado pelo consumismo atual. Eu não preciso de outra caneta, mas sou levado a achar que o modelo "melhor" é indispensável para a minha vida.
Este mesmo conceito aplicado às pessoas é que vai gerar acepção e diferenciação.
Pense bem! Pra quem o professor vai dar mais atenção: para os melhores ou para os piores alunos? E você? Vai querer formar equipes de estudos com os melhores ou com os piores?
Percebeu o quanto somos preconceituosos?
A atitude adequada é olhar todos como iguais. E não somente agora, mas durante toda a vida.
E isso não é fácil. É preciso uma educação individual e uma vigilância constante.
Esse conceito de "melhor" é usado pelo sistema dominante para gerar exclusão e competição que na maioria das vezes é desigual.
A verdade é que não somos melhores.
Não existe melhor. Temos saberes diferentes que podem se tornar iguais.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Uma mão lava a outra... mas ambas continuam sujas.

" O mundo é dos espertos, mas acho que não sou um deles"
( Machado de Alencar)

Recente pesquisa revelou que em cada quatro brasileiro, três admitem que praticariam algum ato de corrupção se tivessem oportunidade.
Vendo por esse ângulo dá pra entender porque somos campeões e,miséria, violência, prostituição e outros males.
Você não pode fugir desta verdade: a miséria só existe porque tem corrupção.
Criamos e divulgamos a idéia de que a esperteza é a chave de tudo. As pequenas corrupções praticadas no dia-a-dia alimentam um mal maior que afeta diretamente as classes mais pobres.
É verdade que no poder público tem gente que não presta, mas quem os colocou lá?
E minhas mãos? Estão sujas? Eu financio o comércio pirata? Sou desonesto na minha vida escolar, na minha casa, com meus amigos? Acredito que vale tudo para alcançar a vitória?
Com certeza, os fins não devem justificar os meios. O país está tão atolado em práticas corruptas, que ser honesto dá manchete em jornais. A corrupção mata silenciosamente e gradativamente. Ela te faz perceber que não existe outro meio de vencer, de ter o que você quer, a não ser através da trapaça, da mentira, do chamado "jeitinho brasileiro".
Entretanto, ainda há tempo de mudar, mudar a sociedade, mudar a si mesmo.
Caso contrário, não existirá água no mundo capaz de limpar a sujeira das suas mãos.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Aquela velha opinião formada sobre tudo.

Uma das coisas que mais gosto na vida é o debate. Sou viciado nele.
Se deixarem, fico falando por horas sem parar defendendo meu ponto de vista sobre algo. Por falar nisso, tenho a mania de querer dar uma opinião sobre tudo. Meus amigos, já sabedores disso, às vezes me deixam falando sozinho. Mas, o negócio mesmo é que eu gosto de falar e pronto!
Quando mais novo, era meio intransigente. Achava que já tinha idéias formadas sobre tudo. E as defendia com aquela paixão típica de adolescente. Ao crescer, fui conhecendo o poder da relatividade. Que até mesmo a absoluta verdade é relativa.
Isso a princípio me confundiu. Mas pouco a pouco, a mente foi abrindo. Descobri o valor da tolerância. No campo físico e no campo das idéias.
Já não queria mais ter aquela velha opinião formada sobre tudo. E essa postura me tornou uma pessoa um pouco mais sábia.
Então, veio o 11 de Setembro.
E junto com as Torres, caiu a máscara de tolerância que cobria o mundo.
É incrível como o medo faz brotar o que há de pior ou de melhor em nós. Para muitos, o medo do Terror fez fronteiras se fecharem e absurdos jamais imaginados acontecerem. Entretanto, o mesmo medo gerou uma reflexão em outros. reflexão sobre o que somos, o que podemos fazer para tornar o mundo um lugar melhor. E não só para nós, mas pra todos.
Nesta época tão conturbada, posições extremas devem ser evitadas.
Minha certeza de hoje pode ser a dúvida de amanhã. E esse processo evolutivo faz parte do crescimento humano. Ter opiniões é algo natural. Reconhecer que elas estão erradas e mudá-las também deveria ser.
O Raul já dizia que preferia ser essa "Metamorfose Ambulante". Ser capaz de mudar de opinião, de postura ao perceber que algo está errado.
Se todos pensassem assim, uma mudança iria ser sentida na sociedade.

Ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Raul sabia das coisas.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Bruno tem razão!

"Música não se faz com a bunda."
A frase acima é de Bruno Gouveia, vocalista da Banda Bíquini Cavadão. Foi dita durante um momento de desabafo no Ceará Music Festival. E não é que o Bruno tem razão?
O mercado brasileiro tem visto surgir uma enorme quantidade de bandas( se é que podemos chamar assim) cuja maior "qualidade" são as músicas chulas, de duplo sentido, reverenciando a bunda e menosprezando o cérebro. É tanta bunda que até enjoa. E isso é um absurdo.
Temos uma história marcante no Rock nacional. A Legião, Capital Inicial, Os Titãs, Ira, Os Paralamas, Os Engenheiros( só pra citam alguns nomes) movimentaram e movimentam o cenário nacional trazendo músicas que primam pela mensagem crítica, pela poesia das letras. Músicas que ultrapassam anos e continuam atuais, pois são símbolos de uma geração inconformada, insatisfeita com os rumos que o país tomava e ainda toma.
Quem nunca cantarolou na vida "Que país é esse?".
Ou nunca afirmou que "O Papa é Pop"!?
E isso é que eu amo na música. Esse poder de sintetizar em poucas linhas o que queremos dizer. De levar pra qualquer canto os anseios de uma geração.
Mas hoje em dia...
A criatividade de alguns é tão capenga que nem se preocupam em produzir algo com sentido. Botam qualquer porcaria rimando com outra pior ainda, costuram alguns acordes e pronto. E ainda chamam isso de música
Este texto não é uma defesa do Rock. Defendo a música. Não importando o ritmo, mas dando valor a letra. É impossível chamar coisas como "créu" de música. Nem com muito esforço e tolerância somos capazes disso.
Enquanto a bunda ocupar o lugar que deveria ser do cérebro, mais composições imbecis irão surgir no mercado nacional. E nosso país, berço da Bossa Nova, gerador de grandes gênios das letras como Vinícius e Chico, pode acabar virando uma grande fossa.
Mas a beleza da arte é maior que o vazio do absurdo. Sempre haverá pessoas disposta a propagar a música de verdade. Que emociona. Que faz pensar. Que faz acreditar em um mundo melhor, mais justo. Mais ritmado nos acordes da liberdade e da igualdade.
É por isso que o Bruno tem razão. E sempre vai ter.

domingo, 27 de julho de 2008

A vida como ela é... nas propagandas de cerveja.

A propaganda até que é legal. Uma jovem, com postura bem moderna, fala que está disposta a transar só por prazer. Dispensando todas as neuras e complicações que advêm de um relacionamento. E no canto da tela, aparece uma garrafa de cerveja.
E o quê a cerveja tem a ver com o resto do comercial?
Sei lá! Talvez, os gênios da publicidade querem associar a postura sexual moderninha com o consumo de álcool. Entende a conexão? Quem é liberal, toma cerveja. Ou seja está livre de qualquer amarra social. Os caras são uns gênios mesmo.
Mas, o bacana é associar o álcool a uma vida saudável, cheia de dinheiro, mulheres bonitas e tudo do bom e do melhor. É claro que a associação não é muito verdadeira. Não vou pegar a gostosona da vez só porque tomo cerveja. E não vou viver como se estivesse em uma ilha tropical em constantes férias, somente porque bebo umas como o Zeca Pagodinho. Mas, é apenas uma propaganda lembra? E propaganda é pra isso mesmo. Exaltar de forma exagerada, ou até inventiva, os supostos benefícios e mascarar possíveis males.
Mas chega um momento em que as propagandas já não servem mais.
É difícil encobrir o perigo do álcool, quando levamos em consideração a enorme quantidade de famílias destruídas pelo consumo exagerado de cerveja.
É impossível mascarar o mal do alcoolismo quando observamos a quantidade de acidentes de trânsito causados por motoristas embriagados.
Isso é o que propaganda deveria mostrar.
Mas não é o que você vai ver.
Existe um jogo de interesse financeiros que move todo esse comércio de álcool. As cervejarias crescem de uma forma surpreendente e conseguem se impor sobre algo de um valor muito maior: a vida humana.
Matamos mais no trânsito do que na guerra do Iraque. E Bush nem é nosso presidente pra jogarmos a culpa nele. Dessa vez culpa é nossa. Individualmente e coletivamente. E por esse motivo, somos os mais indicados para resolver o problema.
A propaganda engana. Mas só fica enganado quem quer. Veja o que está por trás dela. Olhe para o que pode vir a acontecer. E tome uma decisão que pode salvar a vida de centenas de pessoas.
Inclusive a sua.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Poderiam deixar o Davi ganhar? Ao menos uma vez?

Quase todo mundo torce pro Davi. Ele é do povo, é simples, tem a cara da gente.
Enquanto o Golias de, tão grande, faz sombra por onde passa.
Davi pega a pedra, prepara a baladeira( em um versão mais nordestina da história) e atira.
E então, acontece... nada!
A pedra sequer faz Golias rir.
E Davi se põe a correr pra não virar uma página amassada na história.
Ei, mas na Bíblia não foi assim!
É verdade. O problema é que nossos personagens são outros. Outros "Davi" e "Golias", que sempre aparecem em época de eleição.
A diferença principal entre eles? O dinheiro.
Davi tem dívidas aos montes. Golias só falta nadar no dinheiro.
A campanha de Davi é feita por alguns voluntários. Geralmente amigos e família. Já Golias contrata alguma firma terceirizada para o serviço. Enquanto Davi rala debaixo do sol escaldante tentando conquistar alguns votos, Golias administra o andamento da campanha pela Internet, saboreando um delicioso vinho com caviar.
É por isso que eleição no Brasil não surte o efeito esperado. Não existe alternância de poder.
Ele sempre continua nas mãos dos poderosos. Às vezes, de grupos políticos diferentes, mas com a mesma visão. Não representam o povo. Representam a si mesmos.
Do modo como as coisas vão, nunca um Davi de verdade vai chegar ao poder.
A solução? Equilibrar as coisas.
Partidos pequenos devem ter os mesmos direitos e oportunidades dados aos partidos grandes. O mesmo espaço na mídia. O mesmo limite para o uso do dinheiro.
"Ah, mas isso não vai acontecer" diz você.
Também acho, mas não é por isso que vou concordar com o que acontece eleição após eleição.
É uma luta desigual. Não tem chance de Davi ganhar.
Até penso em mudar de lado. O Golias paga mais. E só assim vou poder ter meu dinheiro de volta para seu lugar de origem. Afinal de contas, quem você acha que acaba bancando a campanha do Golias?
Olhe no espelho e terá uma resposta.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

O Terror nas telas. E fora delas.

Esta cena você já viu.
Uma tremenda gostosa corre desesperada. O sangue mancha suas roupas minúsculas e apertadas.
Atrás dela, calmamente andando, aproxima-se um maníaco assassino, aparentemente indestrutível e preparado para esquartejá-la friamente. E a platéia vai ao delírio. Por mais que a gente grite pra mulher ir para uma direção, ela acaba indo de encontro ao assassino. E o sangue jorra aos montes.
E o mais incrível é que esse roteiro imbecil repete-se filme após filme e possui um público cativo.
É a banalização do cinema-violência.
É certo que nem todo filme necessariamente deve passar uma mensagem que gere crescimento em quem o assiste. Cinema é arte. E arte é prazer, diversão. Mas que divertimento há na violência gratuita?
Assisti recentemente ao último filme( ao menos por enquanto ) da série "Jogos Mortais". O filme é um tributo a imbecilidade humana. Não há história. Existe uma tentativa de enredo, que serve como pretexto para as mais absurdas e grotescas cenas de violência. O Ministério da Saúde deveria avisar que filmes assim fazem mal para o cérebro.
E o pior é que boa parte do público que consome esses lixos cinematográficos são crianças e adolescentes. Eles crescem numa cultura em que cabeças decapitadas não assustam mais.
É preciso cada vez inovar na "criatividade" dos roteiros para agradar as platéias atuais e encher os cofres dos produtores. Isso gera a tão falada banalização da violência, que deve ser combatida por um processo educacional humanitário.
É preciso humanizar as pessoas. Ensiná-las a olhar a dor do próximo como se fosse a sua.
A indiferença para com o sofrimento dos outros faz com que uma geração de egoístas e insensíveis tomem forma na sociedade.
Filmes de Terror deveriam servir como uma fuga da realidade, diversão para alguns. Quando eles começam a refletir ou influenciar a vida real, fora das telas, é porque algo está muito errado.
Ou você está disposto a deixar que seus netos assistam "Jogos Mortais 13" em algum ponto do futuro próximo?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

No Brasil é assim: gosto não se discute! Se lamenta. Ou se debocha. Mas se respeita?

NX zero é sucesso.
E sucesso refletido em números e em prêmios. Mas isso quer dizer alguma coisa?
Particularmente, não sou fã do som dos caras, mas assusta a postura de alguns em relação a jovem banda rotulada de "emo". Pra quê tanta agressividade por parte daqueles que não gostam da banda?
Chamo isso de intolerância. Que no final das contas não passa de burrice. É aquele velho papo de "meu gosto é melhor do que o teu". E o termo "velho" não é só força de expressão. Preconceito musical é problema antigo em nossa sociedade, apesar de sermos um verdadeiro caldeirão de ritmos. Os pagodeiros não simpatizam com os roqueiros, que por sua vez desprezam os sertanejos, que não querem ver os forrozeiros nem pintados de ouro. E assim por diante. Cada "tribo" tende a se fechar, excluindo os diferentes. Daí se vê o tamanho da maturidade dessas pessoas.
Tendo uma cultura rica em diversidade, o mínimo que se pode fazer é ouvir de tudo. Ninguém tá pedindo pra você gostar, mas pra ouvir.
É assim que se conhece música: ouvindo.
Depois disso, é que se vai anexando aquilo que agrada ou não. E música é pra ser tratada como a arte que ela é. Não é um fator para discriminação ou separação de pessoas em grupos ou tribos.
A música une. Não são poucos os casos em que diferenças cruciais são postas de lado por causa da música. E esse respeito é fundamental para construir a sociedade que queremos.
E se não conseguimos respeitar gostos musicais diferentes, como conseguiremos respeitar opiniões, posturas, crenças diferentes?
Ouça de tudo. Curta só o que gostar. Respeite as diferenças.
Assim tocaremos as mesmas notas neste grande concerto chamado Brasil.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Um muro agora. Um murro depois.

Vendo meu voto. Mas não sou nenhum alienado ou ignorante político( pelo menos, acho que não). Só estou decepcionado com tudo o que vejo por aí e quero aproveitar pra lucrar um pouco com isso.
Meu voto está à venda! Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas. Vendido para a simpática senhora que está ali.
Consegui o muro que queria. E ela o voto que precisava. Foi uma troca justa. Agora é só esperar.
...
Puxa! Essa campanha me cansou. Mas cumpri minha parte no acordo. Agora só falta o muro.
...
O Muro ainda não foi levantado. Disseram que houve uma complicação na liberação da verba. Começo a me preocupar. Bem que me disseram pra não confiar muito em políticos.
...
Um Murro. Foi o que recebi no lugar do muro prometido. Um segurança, que mais parecia uma muralha, barrou minha entrada num evento onde minha candidata estava presente. Eu só queria protestar civilizadamente. Pedir o cumprimento da outra parte do acordo. Levei um murro como resposta. Nunca mais entro numa dessa. Dá vontade de sair gritando por aí e chamar minha, agora, ex-candidata de "caloteira". Mas corro o risco de passar por otário, já que vendi meu voto sem exigir uma declaração assinada em cartório. Se bem que isso é ilegal. Mas o que começa errado...
...
Meses já passaram e eu aprendi a lição. Nunca mais venderei meu voto. Vou no máximo alugá-lo. Mas só faço com o dinheiro na mão. Jamais confiarei novamente em promessa de candidato. O Murro que levei me ensinou uma lição preciosa. Nunca confiar no ovo que ainda está dentro da barriga da galinha. Ou num muro de tijolos abstratos.
Agora, tenho que ir. Estou atrasado. Negociarei meu voto com um futuro candidato a deputado. Mas já estou precavido. Gravarei toda a conversa. E contratei um auxiliar para o caso de algum murro aparecer. Afinal, a dor é a melhor professora e a esperteza é a melhor moeda de troca.
Pena que não tenho muita.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 26 de julho de 2008

Como me tornei um serial killer ( E sem sujar minhas mãos!!!)

A primeira morte até que me chocou.
Mas depois a gente se acostuma. O negócio ruim é o vermelho. A cor do sangue. Ver ele respingando do corpo de alguém é algo meio traumático. Só que depois de tantos cadáveres, o sangue vira só mais um efeito, um complemento do show. E que show.
Me especializei nas mortes a sangue-frio. Vacilou comigo, o cara perde logo a cabeça. Ou então, eu crivo ele de balas. Se bem que gosto mesmo é de atropelá-los com meu carro. Vê-los sendo arrastados ou esmagados pelos pneus.
Alguns amigos, que compartilham do meu vício, dizem que sou craque em tiro à distância. Peço pra eles não espalharem para não atiçar a concorrência. No meu ramo mortal de negócios, se você é bom logo querem tomar seu lugar. E eu ainda sou muito novo pra pensar em aposentadoria. Ainda não cheguei na marca de mil corpos. Quero ser o Romário do mundo dos assassinos em série.
Só não gosto muito de matar velhinhas. Mato, mas não gosto.
Elas são frágeis demais. Nem aguentam uma torturazinha mais demorada. Mas tudo bem. Sempre há mendigos aos montes pra eu poder testar meus talentos incendiários.
E já planejo meu golpe de mestre. Matar o presidente.
O Gabriel disse que matou e ficou feliz. Pois agora é minha vez. Vê se te cuida, nove dedos!

Que droga! Meu pai acaba de cortar o meu barato. Disse que chega de mortes pra mim. Tudo porque não estou indo bem na escola. Ah, se eu pego esse professor de matemática!
Papai tirou meu computador e cortou minha mesada.
E agora? Como vou prosseguir com minha carreira de assassino em série?
Vou mudar de profissão. Mas antes, treinarei alguns métodos de extermínio rápidos e mortais. Só preciso de uma cobaia.
Será que meu irmãozinho já acordou?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Ir embora, sem nunca dizer adeus.

Milton tinha um sonho.
Uma vida melhor para sua família. Para sua amada esposa e seus adorados filhos. Exatamente como a maioria dos brasileiros trabalhadores e honestos do nosso país.
E ele lutou por esse sonho. As barreiras que surgiram foram vencidas. Os obstáculos foram ultrapassados. O sonho tomou uma forma concreta.
E muito mais vinha pela frente. Até que o inesperado aconteceu.
Na última vez que conversamos, seus olhos brilhavam de emoção. Era a reunião bimestral da Escola, e todos os elogios foram direcionados para Taynara e Erik, dois alunos maravilhosos, fontes de imenso orgulho dos pais. Eles são a concretização do sonho.
Milton foi embora, mas não disse adeus.
Não precisava, pois em essência ele ainda está aqui. Em cada sorriso de Erik. Em todas as atitudes de Taynara. Nas vitórias que ambos ainda vão alcançar. Esse é o grande legado do amor de um pai.
Sabemos que o "daqui pra frente" não vai ser fácil, mas Deus está presente em meio a dor, consolando, fortalecendo, carregando toda a família em seus braços de amor.
E ainda há muito do sonho a ser vivido.
Um sonho que começou com um pai e continuará em seus filhos.

Erik, Taynara, essa é pra vocês.
Palavras não vão fazer a saudade ou a dor irem embora, mas ajudam a suportá-las.
E a cada dia, que a lembrança do amor de Milton seja a força motivadora da vida abençoada que vocês têm pela frente.
Um forte abraço.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A macumba é Universal.

Fui abandonado pela minha mulher.
Vivo pendurado em dívidas.
E meus filhos não me respeitam nem um pouquinho.
Segundo o pastor que está falando na televisão, tudo isso acontece porque tem um "encosto" na minha vida, que me acompanha desde muito tempo. E para me livrar deste espírito ruim, preciso de uma sessão de descarrego. E nada de ir a um terreiro de macumba. Não! Nada disso! Devo ir à Igreja. Somente lá serei exorcizado deste encosto que me atormenta. Mas toda bênção exige um sacrifício. E o meu deve ser financeiro. Deve ser proporcional a minha fé. E compatível com as necessidades financeiras do pregador exorcista.
Fui à Igreja e já adquiri todo um conjunto de objetos para santificar e abençoar minha vida. Já tomei banho com o sabonete perfumado do arcanjo Miguel. Já espalhei um pouco da areia sagrada de Israel por toda a minha casa e bebo da água abençoada pela oração da fé todo santo dia. Participo de todas as campanhas milagrosas bancadas pela Igreja. Já lutei contra "os gigantes Golias", derrubei os "muros de Jérico", pisei nas "cabeças da serpente".
Mas minha vida continua na mesma. Por que será?
O pastor disse que é por que ainda tenho muitos pecados não-confessados e praticados. E isso impede que a prosperidade esteja sobre minha vida.
É verdade. Vejam o pastor. Ele é um homem abençoado por Deus. Tem um belo carro, mora em um condomínio de luxo, anda sempre alinhado. Ontem mesmo chegou de uma viagem de férias pela Europa. É essa bênção que eu quero pra mim.
Mas pensando bem...
Minha mulher me abandonou porque estava cansada de minhas escancaradas traições.
Meus filhos não me respeitam porque eu nunca me dei respeito também. Vivia bêbado em casa e os tratava como se fossem dois cachorros.
E minhas dívidas só aumentam porque gasto de forma irresponsável, querendo ostentar posses que não tenho.
Não há encosto em minha vida. Só o da cadeira onde estou sentado.
Me sinto enganado. Acreditei nos discursos do pastor, pois é mais fácil atribuir culpa a um demônio do que admitir que sou responsável pelo o que minha vida se tornou. É mais confortável acreditar na "macumbaria evangélica" do que confiar unicamente em Deus, dependendo dEle pra mudar de vida mediante minhas atitudes de homem arrependido.
Hoje, eu acordei. Mas o pastor continua lá. Como lobo em pele de ovelha. Ensinando uma fé baseada em artefatos místicos, não-bíblica, que dispensa a confiança única em Deus. Criando uma geração de "crentes macumbeiros".
A mesma macumba tão condenada pela Igreja.
A razão disso tudo?
O amor ao dinheiro que, independentemente da época histórica, continua sendo a raiz de todos os males.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um Arquivo diferente.

Mulder suava bastante.
Ainda não estava acostumado ao calor escaldante do Nordeste, mas apreciava bastante a paisagem do litoral ludovicense. O governo brasileiro pediu ajuda ao FBI para solucionar estranhos casos de desaparecimento nas ruas do Centro Histórico. As poucas testemunhas relatam que os desaparecidos foram levados pela carruagem de Donana Jansem. Iriam se tornar os eternos condutores de seus cavalos com cabeça flamejante. O fato é que sumiram sem deixar vestígios. Um caso típico para os agentes dos Arquivos X.
Scully ainda não conseguia entender como Mulder a convencia a investigar casos tão bizarros. Estavam juntos há pouco tempo, mas ele transpirava confiança e credibilidade. Talvez essa fosse a razão. Porém, o que a incomodava era sentir-se desnecessária. Tudo devia passar de crendice popular alimentada pelo medo natural daquilo que nos é desconhecido.
Mulder achava que não. Acreditava que estávamos diante de um caso raro de abdução paranormal. E não sairia daqui sem uma resposta.
A noite caiu sobre a cidade e os dois agentes montaram acampamento na praça Nauro Machado. Era noite de lua cheia e Scully encantou-se com a apresentação do Tambor de Criola. Enquanto isso, Mulder entrava em contato com a população local.
Ofereceram-lhe um pouco de "cachimbo da paz". Aberto a novas experiências , Mulder aceitou. Scully o achou meio fora do normal, até mesmo para os padrões dos Arquivos X. Mas não deu tempo de analisar direito a situação.
Gritos de socorro chamaram a atenção dos agentes. Scully e Mulder dividiram-se. Enquanto ela dirigiu-se para os "labirintos" do Mercado da Praia grande, ele subiu rapidamente em direção à Escola de Música Lilah Lisboa.
Os anos investigando casos sobrenaturais prepararam Mulder para o inesperado, mas ainda assim, estava maravilhado com o que via. Uma enorme carruagem, com tons fantasmagóricos, vinha em sua direção. As ruas escuras eram iluminadas pelo fogo oriundo dos cavalos.
Mulder pensou em sacar da arma, mas antes disso, mãos firmes o pegaram, colocando-o para dentro da carruagem, que sumiu nas ruas desertas do Centro Histórico.
Scully conseguiu deter os criminosos que ameaçavam um grupo de turistas. Deixou-os com a polícia local e partiu atrás de Mulder. Mas não conseguiu achá-lo.
As buscas por Mulder começaram imediatamente. Mas foram em vão. Não havia sinal dele em lugar algum. Scully não descansou e passou a madrugada à procura do parceiro.
Mulder foi encontrado desacordado na manhã seguinte, em uma rua perto do Arthur Azevedo.
No hospital, Scully detectou a presença de uma forte substância alucinógena na corrente sanguínea de Mulder, que deve tê-lo feito vagar por aí durante a noite anterior sem saber onde estava ou para aonde ia.
Mas Mulder tinha outra explicação.Foi levado pra dentro da carruagem mística. Lá, uma estonteante mulher o seduziu e o levou para o leito. Lembrava somente de algumas cenas do que aconteceu depois, mas aquele perfume jamais sairia de sua cabeça.
Entretanto, Scully dava o caso por encerrado. Não havia assombração alguma na ilha. Apenas um surto de alucinações causadas pela mesma substância que Mulder usara.
Os outros desaparecidos foram encontrados nas mesmas circunstâncias que Mulder.
Este arquivo X estava encerrado.
Porém, apenas Mulder sabia do "sacrifício" que teve que fazer para saciar a Senhora da carruagem. Vai ficar sonhando com ele por meses.
Antes que fossem embora, Mulder perguntou a Scully o que ela sabia sobre serpentes marinhas gigantescas que habitavam o subterrâneo de ilhas brasileiras.
Scully sorriu.
E tratou logo de entrar no táxi.

Gilberto Cardoso em homenagem aos Arquivos X, a melhor série de tv de todos os tempos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O Melhor nos candidatos.

Pobre Ivete.
A bela cantora baiana deve estremecer ao ver seus hits sendo copiados por todo o país durante as campanhas eleitoreiras. Digo "eleitoreiras" pois o que vemos não é eleição. É um verdadeiro circo. Você já parou pra pensar nas letras das musiquinhas de campanha? É uma enxurrada de frases bem elaboradas por marqueteiros profissionais(e muito bem pagos) no intuito de levar o eleitor no embalo da conversa fiada.
E não é que conseguem?
Se pararmos pra observar, segundo o evangelho das musiquinhas, todo candidato é jovem( ainda que não pareça ser), trabalhador( embora não se veja ou se verá o fruto desse trabalho) e conhecedor das mazelas de sua localidade( mesmo que o dito cujo nunca tenha morado nela). Falta de criatividade dos compositores? Não! Eles só apenas sabem o que o povo quer ouvir e o colocam embrulhado em alguma melodia de sucesso. E haja paciência e ouvido para aguentar a mesma ladainha musicada diversas vezes ao dia.
As músicas deveriam retratar a realidade sobre o candidato.Imaginemos por exemplo como ficaria a campanha de certo candidato embalada pela melodia da música "Poeira" da musa Ivete:
"Nogueira, Nogueira, Nogueira/ Vai ser ladrão a vida inteira!"
Viu? Assim é que devia ser. É bem provável que ele não ganhasse a disputa, mas ao menos falaria a verdade. Pena que a verdade não é um item muito apreciado no meio político. E por essa razão mais musiquinhas irão surgir. Estamos cercados.
Mas também, o quê podemos esperar de uma nação onde o que há de melhor nos candidatos é a música?
Caro eleitor, abra os olhos e feche os ouvidos. Enquanto dançamos nas melodias dos corruptos, nosso dinheiro dança no bolso deles.
E as musiquinhas até podem ser legais, mas não são elas que vão governar.
Quem governa são os pilantras por trás delas.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Se Deus é brasileiro, O Diabo é americano!

Imagino Deus ansioso, esperando para ver a cobrança do pênalti, já sabendo o que ia acontecer. A seleção Canarinho ia deixá-lo na mão de novo. Como somos miseráveis! Deus torce por nós e nós pecamos. Erramos literalmente o alvo. Ainda bem que Ele é brasileiro, senão já teria mudado de time. Depois que Israel tornou-se o Faraó para os palestinos e os americanos colocaram Bush na Casa Branca, Deus adotou nosso país como nação eleita. Morram de inveja, argentinos. Deus é nosso agora.
O Diabo adora copiar Deus. Deixou de lado nações árabes( que são evidentemente satânicas)como o Iraque e abraçou os ianques. O Diabo agora usa listras azuis e vermelhas, curte um hip-hop e adora um basquete. Até conhece o presidente. Os dois almoçam juntos todos os domingos. Mas o Diabo traz sua própria comida. É bom não confiar muito. Vai que os americanos resolvem tomar o lugar dele.
Enquanto isso, Deus está às voltas com seu novo povo. Ô povinho complicado. Só Deus pra ter paciência mesmo. Outro dia, um grupo deles pediu uma audiência. Queriam que Deus trouxesse o Corinthias de volta para a primeira divisão. "Mas será que esse povo só pensa em futebol", pensou Deus.Despachou o grupo afirmando que a época dos milagres já passou. E já estava atrasado para o encontro com o presidente. Mas Lula que O esperasse. Os Simpsons estava pra começar.
Até que o Diabo estava se saindo bem com os americanos. Era uma ocupação militar aqui, uma pequena tortura aceitável ali. Ele nem precisou transformar aquilo num inferno. Os americanos já estavam fazendo isso. O problema era alguns fundamentalistas cristãos que resolveram ficar na América. Viviam falando mal do Diabo. Diziam que Deus iria voltar pois a nação americana era muito preciosa e tinha um papel fundamental na história da humanidade. É. os Iraquianos que o digam.
Deus olhou para o presidente esperando uma resposta. Queria saber a soma de dois mais dois. Nem isso ele sabia. Deus lembrou de Bush. Sentiu um pouco de saudade. O pateta americano pelo menos sabia contar. Já o brasileiro não sabia de nada, não via nada. Botaram um cego na presidência. E ainda tinha a amizade com Fidel e Chavez. Nada contra eles, mas Deus só não gostava de concorrência.
O Diabo se aperreou. Não satisfeitos em dominar o mundo, os americanos resolveram fazer um passeio pelo inferno. Chegaram lá botando banca, demarcando território. E expulsaram o pessoal do Diabo. Agora, ali era mais uma colônia do Tio Sam. Foi pro Diabo aprender que ele não é o único demônio no mundo.
Esse povo brasileiro parece que não tem jeito mesmo. Viviam pedindo ajuda de Deus na hora do aperto. Mas depois que a tempestade passava, esqueciam dEle. Isso cansou.
Deus abdicou da cidadania brasileira.
E o Diabo pediu asilo político aos russos.

E o mundo seria um lugar mais tolerável se as nações parassem de reivindicar uma nacionalidade para a divindade.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 20 de julho de 2008

Que droga!!!( O relato verídico de um viciado em Coca).

Fui criado em um lar amoroso, cristão. Ia para a Escola Bíblica todas as manhãs de domingo. Cresci nesse ambiente de Igreja. E para minha tristeza, foi lá que a conheci.
Tinha apenas sete anos. Meus pais cuidaram bem de mim. Às vezes, até me super-protegiam. Mas eles nunca imaginariam que iria me tornar um viciado.
Como toda criança sempre fui curioso. Me disseram pra cheirar, pra ver se eu gostava. E assim foi. Aquilo me encantou. Me envolveu. Não apenas cheirei. Tomei tudo de uma vez só. Minha vida mudou a partir desse momento. Não podia mais viver sem ela. Queria sempre mais. Nunca estava satisfeito. Era no almoço, na merenda, no jantar. Meus pais não gostavam muito da idéia, mas como me amavam não sabiam dizer "Não" para mim.
E esse foi o grande erro deles.
Enquanto o tempo passava, minha dependência dela aumentava também. Tornei-me um adolescente da Coca. Só fazia algo se estivesse ligado nela. Terminei namoros porque as meninas não gostavam dela. Briguei com amigos que queria que eu a deixasse. Gastava a maior parte da minha grana sustentando o meu vício. Até que não aguentei mais. Tive uma overdose por causa do uso da Coca pura.
Às vezes, nós vivemos de modo egoísta, achando que ninguém pode nos vencer, que nada pode nos abalar. Então, a vida nos dá uma rasteira e chegamos ao fundo do poço.Nunca quis ter "emoção pra valer" ou "viver o lado Coca da vida."
Eu tento deixar o vício. Mas é muito difícil. Meu organismo já depende dela. Não quero que essas palavras sejam esquecidas, jogadas ao vento. Por isso, peço que ouçam meu testemunho e que minha história sirva como um alerta sobre o perigo das drogas.
Os homens gananciosos que a produzem fazem de tudo para popularizá-la. Colocam-na em filmes, nas mãos de cantores e artistas famosos. Até associam o consumo da Coca com o nacionalismo em tempos de Copas do mundo e de Olimpíadas.
Sei que desperdicei boa parte da minha vida e que tenho uma longa estrada de recuperação pela frente, mas hoje tenho consciência.
A Coca é uma droga e na minha vida ela não Cola mais.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Sexo antes do casamento não é bom! Pode atrasar a cerimônia!

O título acima é uma piada. De gosto duvidoso, mas piada. O mesmo pode-se falar da castidade. Dá pra levá-la a sério em mundo cada vez mais impulsionado pelo sexo? A Igreja é bem rígida quando se trata do assunto e exige obediência cega dos fiéis, que não obedecem nem aos próprios pais quanto mais ao Papa. E debaixo do chicote da fé, o sexo vai sendo tratado como algo que nos traz vergonha. Necessário é verdade, mas de certo modo, pecaminoso. Não foi ele que derrubou Adão e Eva do paraíso, segundo o que dizem alguns cristãos desinformados?
A questão é que sexo vende. E vende bem. O mercado pornográfico brasileiro é um dos que mais cresce( se não for o mais). E esse crescimento depende da prática, muitas vezes precoce, da relação sexual. Daí para a propagação de doenças venéreas é um pulo só. A AIDS cresce nesse ambiente também, mas os filhos indesejados não. Esses são vitimados pelos abortos criminosos das clínicas clandestinas ou dos banheiros obscuros de uma casa qualquer.
Desse modo até parece que a castidade é o que falta para tornar o mundo um lugar melhor. Mas não é bem por aí.
O problema da Igreja é a imposição. Ela não convence, manda. Não ensina, obriga o fiel a engolir goela abaixo seu modo de pensar sobre algo. E isso obviamente não dá certo. Como resultado, vivemos em uma das maiores nações católicas do mundo, entretanto os fiéis ignoram as mais simples orientações de seu líder máximo.
Tanto desejo de controlar os passos dos devotos faz com que as pessoas se afastem do evangelho e proporciona atos que beiram o absurdo como condenar o uso de preservativos em uma sociedade sexualmente ativa e vitimada pelo HIV.
Castidade ou não é escolha do próprio indivíduo. As imposições da Igreja não vão torná-la realidade. E também não serve para medir o caráter de alguém. É decisão pessoal baseada nos princípios de fé e moral que adquirimos durante o crescimento.
As posições extremistas é que devem ser condenadas. Não somos animais para viver em um eterno cio, com uma parceira hoje e cinco amanhã, mas também nem todos receberam o dom do celibato, ao que parece, tão desejado pela autoridade papal.
O fato é que sexo é bênção de Deus. É compartilhamento de vida, de amor.
Com responsabilidade e no momento adequado, escolhido por você e por mais ninguém.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 19 de julho de 2008

Ado, aado, vão ver o sol nascer quadrado???

No quesito criatividade, somos incomparáveis. Damos ao mundo várias contribuições que ficarão na história, como a dança da vassoura, da boquinha da garrafa e a do créu. Agora despontamos com a dança do quadrado. Até que é divertida na sua boba futilidade.
Fico imaginando figurões acusados de corrupção, como Daniel Dantas, cantando a já conhecida melodia. Diriam : "Ado, aado, não vou ser trancafiado". Parece até que já imaginavam o dilema "Tranca e Solta" que atingiu o judiciário brasileiro.
E isso não é de agora. As liminares sempre existiram e sempre existirão. São parte do processo legal de uma sociedade democrática. Mas como explicar isso para uma população cansada de ver tantos impunes e soltos por aí?
Onde estão os deputados envolvidos no chamado "Mensalão"? Presos é que não. Alguns até mesmo se reelegeram e estão de volta ao Congresso Nacional, sendo pagos com dinheiro do contribuinte. Nosso dinheiro. Isso sem mencionar outras denúncias que atingiram a sociedade só nesses anos de desgoverno do PT. O próprio Collor voltou. E voltou com o consentimento dos seus eleitores. Fazer o quê, ?
Essa época de denuncismo que vivemos no Brasil tem um lado positivo, mas também acaba caindo no lugar-comum. Uma denúncia é feita, pessoas são presas e logo depois são soltas. E depois tudo começa de novo.
Até a próxima corrupção ser escancarada.
Aí, voltamos a falar sobre rios de dinheiro que são desviados e jamais devolvidos aos cofres públicos. A Polícia Federal até que faz a parte dela, mas esbarra nas brechas das leis brasileiras, na estrutura do poder judiciário, que na pretensão de ser igual com todos, privilegia alguns.
É difícil olhar para a futura geração e vê-la como parte de uma sociedade onde a honestidade prevalecerá. Difícil, mas não impossível.
Pra cada Daniel Dantas, existe centenas de Josés, Marias. Centenas de pessoas como você. Que desejam sinceramente que nosso país torne-se uma nação melhor, com direitos iguais para todos.
Um pais onde os corruptos certamente ouvirão:
"Ado, aado, vão ver o sol nascer quadrado".

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Se não podem com eles... Juntem-se contra eles!!!

Estava cansado.
Por mais que tentasse, seus planos para derrubar o dito cujo nunca davam certo. Descavava denúncias de corrupção, mas um séquito de advogados sempre livravam a cara o seu adversário. Alertava as pessoas acerca das mentiras contadas por ele, mas ninguém o ouvia. Parece até que o sujeito era inabalável. Por isso ficou surpreso quando recebeu a proposta . Uma singela proposta para deixarem as diferenças de lado. Irem pro mesmo lado. Afinal, juntos poderiam muito mais.
Pensou no que fazer diante de uma situação dessa.

A história acima pode ser inventada, mas o problema é real. Existe uma instabilidade gigantesca na chamada "oposição" neste Estado e Nação. Os inimigos mortais de hoje serão os bons companheiros de amanhã. São comprados por algum benefício futuro ou por algum dinheiro do presente. O consenso geral para algumas pessoas é que todos têm um preço e que ideologias não possuem valor algum.
Só que não é bem por aí, não.
Integridade não se compra. Honestidade não se vende.
Em vez de unir-se aos corruptos e fazer parte desse jogo de interesse pessoais, devemos é manter firme a convicção daquilo que é certo. E não nos vendermos física ou ideologicamente para o que é legalmente errado.
Juntar-se contra eles, os poderosos que acham que mandam em tudo e em todos, é a opção que nós devemos seguir. Entretanto, nossa cultura é de submissão, subordinação, aceitação do modo mais "fácil" de resolver um dilema. É a praga do "jeitinho brasileiro", que não dá jeito em nada.
A melhor forma de resistência contra essa bagunça que estar aí é manter-se firme nos princípios da honestidade, da ética, da luta por um bem comum, partilhado por todos.
Sozinho, eu não posso com eles.
Mas juntos, nós alcançamos o impossível.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Em terra de cego, quem tem um olho é servo.

Vale a pena ser honesto?
Pergunta difícil. Ainda mais se levarmos em conta a sociedade em que vivemos. Entretanto, tudo tem relação com os princípios que você tem adquirido desde pequeno. Você veio ao mundo para ser servido ou para servir? Para fazer a diferença ou ser mais um na multidão?
Nosso país há muito tempo já foi dominado pela corrupção, mas não é impossível ser honesto em uma sociedade onde quase todos querem se dar bem, sair ganhando sempre.
O mundo não é dos "espertos". Pertence a todos.
Olhando por essa ótica, honestidade vale a pena.
Não dá lucros ou prêmios, mas constrói o caráter. Não importa se a maioria das pessoas é do grupo dos "espertos", que sempre querem ganhar. Seja do grupo dos que fazem a diferença.
Alguns afirmam que fazer isso não é uma opção válida. Afinal ninguém vai matar pra se dar bem, mas ficar pra trás vendo os outros crescerem? E um dia, quando o país mudar, defenderão a bandeira da honestidade.
Podemos esperar até lá?
Faça a diferença.
E saiba que você vai ficar pra trás, pois estará ajudando outras pessoas a caminharem também.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Não é so ladrão... que corre da polícia!

Anos 80

Corram que a polícia vem aí.

Esse era o título de uma série de filmes que fizeram um grande sucesso. Neles um atrapalhado agente policial resolvia os mais complicados casos com muito bom humor.

Julho de 2008.

Corram que a polícia vem aí.

A frase acima adquiriu um novo significado. E nada engraçado. Como explicar tamanha imprudência da polícia em tão pouco espaço de tempo? Não podemos considerar as vidas que foram perdidas como meros danos colaterais. E muito menos, estáticas em uma guerra civil não declarada que parece não ter fim.
Em todos os recentes casos de violência policial, a polícia atirou primeiro. Mandou bala sem se importar com as consequências. Alguns deles ainda usaram a digníssima expressão "fizemos uma cagada" ao perceberem o assassinato que cometeram por irresponsabilidade, despreparo.
"Cagada" é o que as incompetentes autoridades deste país fazem todo dia em cima da população. A ausência de investimento em segurança pública, na qualificação de policiais gera isso que nós vemos hoje.
Vamos recorrer a quem? Aos traficantes? Às milícias organizadas que querem exercer as funções que cabem ao Estado?
Não! Eu ainda acredito na polícia.
Não nos bandidos de farda que sujam o nome da instituição, mas no enorme contingente de homens e mulheres que dedicam a vida para proteger ao próximo. A polícia não deve ser extirpada. A corrupção sim. É ela que faz a propina existir no momento em a lei deve prevalecer. Que permite que criminosos de farda sejam tratados de forma impune. É preciso limpar a polícia. Caso contrário, os bons homens da Corporação serão subjugados pelos maus.
E isso é algo que ninguém pode aceitar.
Para que cheguemos ao momento em que corremos para a polícia.
E não da polícia.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Do Relento ao Sucesso.

Foi assim que a história dele começou.
No princípio não se via algo a mais. Grande engano.
Todos nós temos algo a mais. escondido talvez. Inexistente jamais. Só era preciso encontrar o que se sabia estar lá.
O primeiro contato até que foi amistoso, mas não dava pra perceber a genialidade que ali se veria meses à frente. Entretanto, pouco a pouco, sua luz própria foi surgindo. Era um comentário aqui, uma boa idéia ali e ele foi sendo percebido e chamando a atenção.
Não de uma maneira produtiva. E isso o fez conhecer o relento pela primeira vez. Entretanto, podia ver o algo mais.
Durante um tempo, o relento parecia ser destinado para ele. Mas, havia algo a mais.
Então de forma inesperada, surgiram bombas.
Investiga um, pressiona outro. Até que chegaram nele.
Foi uma das primeiras vezes em que conversamos pra valer. Eu só queria entender o porquê. E saí da conversa com muito mais do que queria. As lágrimas que saíram dos olhos daquele garoto me marcaram. ajudaram-me a enxergá-lo de verdade.
Vi o algo a mais.
Tinhamos um desafio pela frente. Ajudá-lo a enxergar-se como ele realmente era.
Minto se digo que foi tarefa fácil. Mudanças nunca são fáceis. Mas essa só existiu porque uma família amorosa estava sempre apoiando-o em todos os momentos.
O primeiro passo foi dado. Um erro corrigido. Um adolescente foi restaurado.
Mas por que não tentar vôos mais altos?
O mais legal nessa história é acreditar em alguém quando nem ele mesmo acredita. E isso é a maior recompensa em ser um educador.
Fomos avançando passo a passo. vencendo as barreiras do conhecimento. E como em toda boa conquista de um objetivo, houve um momento em que ele parou. Talvez por causa do cansaço. Ou então da própria insegurança da idade. O fato é que a caminhada parou.
Mas não por muito tempo. Deus tinha outros planos.
Nosso pequeno gênio encontrou-se com outros. Mesma idade, mesmos objetivos, mesma vontade de vencer. E algo incrível aconteceu.
Ele conseguiu.
Ainda que muitos achassem que não, ele conseguiu.
E não apenas a aprovação em algum concurso. Isso foi o de menos. Ele conseguiu crescer. Em caráter, personalidade, no coração.
Hoje, não é mais um aluno. Virou amigo, irmão. E fonte de imenso orgulho e alegria para todos os que o amam de verdade.
E Carlos tem apenas 15 anos.
Já imaginaram o que ele vai ser daqui pra frente?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 13 de julho de 2008

Um mundo em preto. E mais ou menos branco!

Havia negros por todos os lados.
Sentiu-se um peixe fora-da-àgua. E todo mundo o olhava como se fosse um mesmo. Sua pele clara e olhos azuis contrastavam com o negro predominante na maioria dos outros alunos.
Logo na entrada, encontrou-se com um velho amigo de infância limpando o corredor do curso de Direito. Lembrou-se dele, de como diziam que teria um futuro promissor, apesar de ser branco. E agora estava ali. Tanto potencial desperdiçado em um balde e esfregão.
Não entendia como o país podia ser tão racista, discriminador. A maioria branca e pobre era relegada a segundo plano, enquanto a minoria negra gozava dos benefícios do poder. Conseguiu a vaga na universidade pública por meio do "discutível" sistema de cotas para brancos. Ainda na primeira aula, sentiu o peso das desigualdades em um país continental. Um grupo de alunos negros, prejudicados pelas cotas, fizeram um barulhento protesto em frente à universidade.
Sentiu-se meio culpado, mas o que podia fazer?
Nunca teve oportunidade na vida e não podia perder essa porta de entrada para o ensino superior. Ainda mais no curso de Direito, onde a elite negra predominava. Quantos advogados ou juízes brancos existiam? O mínimo do mínimo!
Os brancos sempre foram tratados como seres inferiores, incapazes, mentalmente involuídos. Claro que nem todo negro pensava assim. Alguns intelectuais pregavam o respeito às diferenças existentes nos seres humanos e que todos deviam ser tratados de forma igual. Eram brancos, mas eram humanos em primeiro lugar. Todos eram humanos.
Entretanto a mídia era dominada pela "beleza negra". Os grandes atores, cantores e apresentadores eram negros. Os brancos eram sempre retratados como uns pobres coitados , marginais ou traficantes. Ser branco era como ser parte de um grupo à parte, portador de alguma doença contagiosa.
Por isso, o governo estabeleceu o programa das cotas pois era consciente de que o voto dos brancos também é válido. Não era uma solução, mas ao menos mascarava um pouco. E deixava os brancos mais felizes. As leis raciais também ajudavam a estabelecer a idéia de um país uniforme. Chamar alguém de "giz", "leite" ou qualquer outro termo discriminatório por causa da cor da pele era crime inafiançável.
E dessa forma, uma nação multicolorida estava sendo formada.

Só esqueceram de dizer que o racismo é uma coisa sem sentido. E sobre qualquer forma ou cor, trata-se da mais rudimentar burrice.
E nada mais além disso.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

E eles é que são os mocinhos?!

Foi-se o tempo em que para alavancar a audiência de um programa ou para lucrar em cima de uma película apelava-se para tórridas cenas de sexo. Todo mundo topava agüentar alguns minutos de trama desconexa, se ao final , fosse recompensado ao ver os "dotes artísticos" da siliconada da vez. Mas isso é passado. O carro-chefe de nossa cultura de entretenimento atual é a realidade nua, crua e violenta. Com bastante ênfase na violência. Quanto mais sangue, balas perdidas, crueldades dignas do inferno e sangue( novamente) aparecerem melhor. Melhor para os cofres dos produtores, é claro.
E entre tantas realistas-oportunistas, ainda dá pra achar uma pérola que vale a pena o valor da entrada e as quase duas horas dedicadas para assisti-la. Refiro-me a "Tropa de Elite" do diretor José Padilha ( autor do também ótimo "Ônibus 174". Assista se puder).
O filme virou um fenômeno, não só pelo elenco afiado, mas por trazer o BOPE para a boca do povo, ao mostrar policiais que primam pela honestidade e combatem a violência absurda dos morros cariocas com mais violência ainda.
E há algum mal nisso?
Vivemos em um mundo nem branco, nem preto. Mas cinza. Assim como no filme, é difícil definir quem é mocinho e quem é bandido se ambos usam os mesmos métodos. É claro que a violência não deve ser combatida com flores, mas até quando vai prevalecer no país a lei do "atire primeiro, pergunte depois?"
É fácil para nós olharmos as ações duras da polícia e aplaudirmos de pé. Não vivemos essa realidade. Agora, pergunte a algum morador de favela carioca ou de comunidade carente de qualquer parte do país, que já foi vítima de violência policial ou de bala perdida, o que ele acha do método " violência contra violência."
É preocupante perceber que boa parte dos nossos jovens estão inseridos de tal modo nesse contexto que transformaram o símbolo do BOPE em um dos mais copiados da internet.
Estamos perdendo a guerra contra a violência , uma vez que cedemos a ela. É preciso fazer algo para transformar essa realidade. Ações práticas e não atitudes utópicas. Passeatas pela paz chamam atenção, mas são de pouca utilidade. O que vale mesmo é a união popular pela cobrança de políticas públicas por parte de nossos governantes.
É por aí que a mudança se origina. Sem falar que a Educação deve virar prioridade em cada canto deste país. E falamos de um processo educacional contínuo que estimule a crítica, a produção de pensamento livre, sem amarras ou alienações do sistema desigual em que estamos inseridos.
E quando assistir a "Tropa de Elite", assista até o final. Ele não é um elogio a violência, mas sim uma constatação do quão cinza é o mundo ao nosso redor.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.