domingo, 13 de julho de 2008

Fragmentos de uma campanha ( O passo a passo de um canalha)

15 de Janeiro de 2008.

Começam os preparativos pra campanha. Meu grupo de aliados confia sinceramente em mim. E eu não confio nem um pouco neles. São um bando de oportunistas, querendo uma fatia do meu bolo. Vou deixar que pensem que estamos do mesmo lado. O meu lado.

27 de Fevereiro de 2008.

Reunião para arrecadação de fundos. Os empresários da região fizeram generosas doações. Terei que recompensá-los durante minha gestão. Faço um caixa-dois para minhas próprias necessidades pessoais. Aproveito para ampliar a piscina da minha casa de praia.

30 de Abril de 2008.

Apesar de ser um ateu convicto, dou a palavra em alguns cultos evangélicos. Penso em colocar um pastor como vice. É bom pra imagem. E se o outro lá conseguiu por que eu não?
Faço enormes sacrifícios para a campanha. Hoje tive que abraçar um bando de crianças pobres, feias e barrigudas. Deviam estar cheias de lombrigas. Ainda bem que tenho desinfetante em casa.

26 de Junho de 2008.

Defendo publicamente a candidatura do meu sobrinho à câmara municipal. A oposição acusa-o de oportunista. Dizem que ele não conhece o município. E é verdade mesmo. E desde quando é preciso conhecer algo para legislar?
Bem, minha campanha segue em frente. Já tenho até grupos de orações a meu favor. Esses crentes não são maravilhosos?

18 de Agosto de 2008.

Meu primeiro comício foi um sucesso. Os militantes levantaram bandeiras e bateram palmas a cada palavra que eu dizia. Também, com 10 reais por dia, se for preciso quero até que beijem minhas mãos. Estou gastando muito na campanha. Vou repor tudo desviando verbas durante meu governo. Se alguém desconfiar, faço como Lula: não vejo nada, não sei de nada. E imito cara de pobre.

29 de Setembro de 2008.

A campanha chega ao auge. Entretanto pesadas denúncias de compra de votos caem sobre minha pessoa. O partido sai em minha defesa. Com um pouco de lábia e marketing, o caso é abafado. Sigo vitorioso para o dia da eleição. E com tantos laranjas bancados por mim, essa não tem pra ninguém.
Obs: Por via das dúvidas, devo lembrar de desenterrar algum podre do meu adversário e colocar em exposição no jornal da cidade.

05 de Outubro de 2008.

Sou carregado pelas ruas do município por um grupo de eleitores felizes e esperançosos. Minha vitória foi esmagadora. Passo pelos comitês dos meus adversários rindo à toa e soltando rojões. Já planejo a compra dos vereadores da nova Câmara. Gastarei uma grana, mas será um investimento seguro já qua a chave dos cofres públicos ficará comigo.
Mas nada de moleza não! A partir de amanhã, começo a construir a base para minha campanha ao governo do Estado. E quem sabe no futuro, à presidência.
Lula conseguiu, eu consigo também. Temos cara-de -pau, os pobres nos amam e amamos incondicionalmente o poder. Mas em uma coisa eu o supero.
Tenho um dedo a mais.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.




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