quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Pior do melhor.


Pense rápido! Quem são os melhores alunos da sua sala? Quem os rotulou de "melhores"? Você é um deles? Quer ser um deles?
Antes que você responda, medite um pouco na origem dos conceitos "melhor" ou " pior". O que torna uma coisa melhor do que a outra?
Quais os critérios usados para a construção do rótulo "melhor"?
Imagine que você possui uma caneta e é feliz com ela. Entretanto, vê o anúncio de um novo modelo com filmadora, com capacidade de tirar fotos digitalizadas e até mesmo com acesso rápido a Internet. Você percebe que o seu modelo é ultrapassado. Ainda escreve bem, mas o outro é "melhor".
Este conceito de melhor é sustentado pelo consumismo atual. Eu não preciso de outra caneta, mas sou levado a achar que o modelo "melhor" é indispensável para a minha vida.
Este mesmo conceito aplicado às pessoas é que vai gerar acepção e diferenciação.
Pense bem! Pra quem o professor vai dar mais atenção: para os melhores ou para os piores alunos? E você? Vai querer formar equipes de estudos com os melhores ou com os piores?
Percebeu o quanto somos preconceituosos?
A atitude adequada é olhar todos como iguais. E não somente agora, mas durante toda a vida.
E isso não é fácil. É preciso uma educação individual e uma vigilância constante.
Esse conceito de "melhor" é usado pelo sistema dominante para gerar exclusão e competição que na maioria das vezes é desigual.
A verdade é que não somos melhores.
Não existe melhor. Temos saberes diferentes que podem se tornar iguais.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Uma mão lava a outra... mas ambas continuam sujas.

" O mundo é dos espertos, mas acho que não sou um deles"
( Machado de Alencar)

Recente pesquisa revelou que em cada quatro brasileiro, três admitem que praticariam algum ato de corrupção se tivessem oportunidade.
Vendo por esse ângulo dá pra entender porque somos campeões e,miséria, violência, prostituição e outros males.
Você não pode fugir desta verdade: a miséria só existe porque tem corrupção.
Criamos e divulgamos a idéia de que a esperteza é a chave de tudo. As pequenas corrupções praticadas no dia-a-dia alimentam um mal maior que afeta diretamente as classes mais pobres.
É verdade que no poder público tem gente que não presta, mas quem os colocou lá?
E minhas mãos? Estão sujas? Eu financio o comércio pirata? Sou desonesto na minha vida escolar, na minha casa, com meus amigos? Acredito que vale tudo para alcançar a vitória?
Com certeza, os fins não devem justificar os meios. O país está tão atolado em práticas corruptas, que ser honesto dá manchete em jornais. A corrupção mata silenciosamente e gradativamente. Ela te faz perceber que não existe outro meio de vencer, de ter o que você quer, a não ser através da trapaça, da mentira, do chamado "jeitinho brasileiro".
Entretanto, ainda há tempo de mudar, mudar a sociedade, mudar a si mesmo.
Caso contrário, não existirá água no mundo capaz de limpar a sujeira das suas mãos.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Aquela velha opinião formada sobre tudo.

Uma das coisas que mais gosto na vida é o debate. Sou viciado nele.
Se deixarem, fico falando por horas sem parar defendendo meu ponto de vista sobre algo. Por falar nisso, tenho a mania de querer dar uma opinião sobre tudo. Meus amigos, já sabedores disso, às vezes me deixam falando sozinho. Mas, o negócio mesmo é que eu gosto de falar e pronto!
Quando mais novo, era meio intransigente. Achava que já tinha idéias formadas sobre tudo. E as defendia com aquela paixão típica de adolescente. Ao crescer, fui conhecendo o poder da relatividade. Que até mesmo a absoluta verdade é relativa.
Isso a princípio me confundiu. Mas pouco a pouco, a mente foi abrindo. Descobri o valor da tolerância. No campo físico e no campo das idéias.
Já não queria mais ter aquela velha opinião formada sobre tudo. E essa postura me tornou uma pessoa um pouco mais sábia.
Então, veio o 11 de Setembro.
E junto com as Torres, caiu a máscara de tolerância que cobria o mundo.
É incrível como o medo faz brotar o que há de pior ou de melhor em nós. Para muitos, o medo do Terror fez fronteiras se fecharem e absurdos jamais imaginados acontecerem. Entretanto, o mesmo medo gerou uma reflexão em outros. reflexão sobre o que somos, o que podemos fazer para tornar o mundo um lugar melhor. E não só para nós, mas pra todos.
Nesta época tão conturbada, posições extremas devem ser evitadas.
Minha certeza de hoje pode ser a dúvida de amanhã. E esse processo evolutivo faz parte do crescimento humano. Ter opiniões é algo natural. Reconhecer que elas estão erradas e mudá-las também deveria ser.
O Raul já dizia que preferia ser essa "Metamorfose Ambulante". Ser capaz de mudar de opinião, de postura ao perceber que algo está errado.
Se todos pensassem assim, uma mudança iria ser sentida na sociedade.

Ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Raul sabia das coisas.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Bruno tem razão!

"Música não se faz com a bunda."
A frase acima é de Bruno Gouveia, vocalista da Banda Bíquini Cavadão. Foi dita durante um momento de desabafo no Ceará Music Festival. E não é que o Bruno tem razão?
O mercado brasileiro tem visto surgir uma enorme quantidade de bandas( se é que podemos chamar assim) cuja maior "qualidade" são as músicas chulas, de duplo sentido, reverenciando a bunda e menosprezando o cérebro. É tanta bunda que até enjoa. E isso é um absurdo.
Temos uma história marcante no Rock nacional. A Legião, Capital Inicial, Os Titãs, Ira, Os Paralamas, Os Engenheiros( só pra citam alguns nomes) movimentaram e movimentam o cenário nacional trazendo músicas que primam pela mensagem crítica, pela poesia das letras. Músicas que ultrapassam anos e continuam atuais, pois são símbolos de uma geração inconformada, insatisfeita com os rumos que o país tomava e ainda toma.
Quem nunca cantarolou na vida "Que país é esse?".
Ou nunca afirmou que "O Papa é Pop"!?
E isso é que eu amo na música. Esse poder de sintetizar em poucas linhas o que queremos dizer. De levar pra qualquer canto os anseios de uma geração.
Mas hoje em dia...
A criatividade de alguns é tão capenga que nem se preocupam em produzir algo com sentido. Botam qualquer porcaria rimando com outra pior ainda, costuram alguns acordes e pronto. E ainda chamam isso de música
Este texto não é uma defesa do Rock. Defendo a música. Não importando o ritmo, mas dando valor a letra. É impossível chamar coisas como "créu" de música. Nem com muito esforço e tolerância somos capazes disso.
Enquanto a bunda ocupar o lugar que deveria ser do cérebro, mais composições imbecis irão surgir no mercado nacional. E nosso país, berço da Bossa Nova, gerador de grandes gênios das letras como Vinícius e Chico, pode acabar virando uma grande fossa.
Mas a beleza da arte é maior que o vazio do absurdo. Sempre haverá pessoas disposta a propagar a música de verdade. Que emociona. Que faz pensar. Que faz acreditar em um mundo melhor, mais justo. Mais ritmado nos acordes da liberdade e da igualdade.
É por isso que o Bruno tem razão. E sempre vai ter.

domingo, 27 de julho de 2008

A vida como ela é... nas propagandas de cerveja.

A propaganda até que é legal. Uma jovem, com postura bem moderna, fala que está disposta a transar só por prazer. Dispensando todas as neuras e complicações que advêm de um relacionamento. E no canto da tela, aparece uma garrafa de cerveja.
E o quê a cerveja tem a ver com o resto do comercial?
Sei lá! Talvez, os gênios da publicidade querem associar a postura sexual moderninha com o consumo de álcool. Entende a conexão? Quem é liberal, toma cerveja. Ou seja está livre de qualquer amarra social. Os caras são uns gênios mesmo.
Mas, o bacana é associar o álcool a uma vida saudável, cheia de dinheiro, mulheres bonitas e tudo do bom e do melhor. É claro que a associação não é muito verdadeira. Não vou pegar a gostosona da vez só porque tomo cerveja. E não vou viver como se estivesse em uma ilha tropical em constantes férias, somente porque bebo umas como o Zeca Pagodinho. Mas, é apenas uma propaganda lembra? E propaganda é pra isso mesmo. Exaltar de forma exagerada, ou até inventiva, os supostos benefícios e mascarar possíveis males.
Mas chega um momento em que as propagandas já não servem mais.
É difícil encobrir o perigo do álcool, quando levamos em consideração a enorme quantidade de famílias destruídas pelo consumo exagerado de cerveja.
É impossível mascarar o mal do alcoolismo quando observamos a quantidade de acidentes de trânsito causados por motoristas embriagados.
Isso é o que propaganda deveria mostrar.
Mas não é o que você vai ver.
Existe um jogo de interesse financeiros que move todo esse comércio de álcool. As cervejarias crescem de uma forma surpreendente e conseguem se impor sobre algo de um valor muito maior: a vida humana.
Matamos mais no trânsito do que na guerra do Iraque. E Bush nem é nosso presidente pra jogarmos a culpa nele. Dessa vez culpa é nossa. Individualmente e coletivamente. E por esse motivo, somos os mais indicados para resolver o problema.
A propaganda engana. Mas só fica enganado quem quer. Veja o que está por trás dela. Olhe para o que pode vir a acontecer. E tome uma decisão que pode salvar a vida de centenas de pessoas.
Inclusive a sua.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Poderiam deixar o Davi ganhar? Ao menos uma vez?

Quase todo mundo torce pro Davi. Ele é do povo, é simples, tem a cara da gente.
Enquanto o Golias de, tão grande, faz sombra por onde passa.
Davi pega a pedra, prepara a baladeira( em um versão mais nordestina da história) e atira.
E então, acontece... nada!
A pedra sequer faz Golias rir.
E Davi se põe a correr pra não virar uma página amassada na história.
Ei, mas na Bíblia não foi assim!
É verdade. O problema é que nossos personagens são outros. Outros "Davi" e "Golias", que sempre aparecem em época de eleição.
A diferença principal entre eles? O dinheiro.
Davi tem dívidas aos montes. Golias só falta nadar no dinheiro.
A campanha de Davi é feita por alguns voluntários. Geralmente amigos e família. Já Golias contrata alguma firma terceirizada para o serviço. Enquanto Davi rala debaixo do sol escaldante tentando conquistar alguns votos, Golias administra o andamento da campanha pela Internet, saboreando um delicioso vinho com caviar.
É por isso que eleição no Brasil não surte o efeito esperado. Não existe alternância de poder.
Ele sempre continua nas mãos dos poderosos. Às vezes, de grupos políticos diferentes, mas com a mesma visão. Não representam o povo. Representam a si mesmos.
Do modo como as coisas vão, nunca um Davi de verdade vai chegar ao poder.
A solução? Equilibrar as coisas.
Partidos pequenos devem ter os mesmos direitos e oportunidades dados aos partidos grandes. O mesmo espaço na mídia. O mesmo limite para o uso do dinheiro.
"Ah, mas isso não vai acontecer" diz você.
Também acho, mas não é por isso que vou concordar com o que acontece eleição após eleição.
É uma luta desigual. Não tem chance de Davi ganhar.
Até penso em mudar de lado. O Golias paga mais. E só assim vou poder ter meu dinheiro de volta para seu lugar de origem. Afinal de contas, quem você acha que acaba bancando a campanha do Golias?
Olhe no espelho e terá uma resposta.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

O Terror nas telas. E fora delas.

Esta cena você já viu.
Uma tremenda gostosa corre desesperada. O sangue mancha suas roupas minúsculas e apertadas.
Atrás dela, calmamente andando, aproxima-se um maníaco assassino, aparentemente indestrutível e preparado para esquartejá-la friamente. E a platéia vai ao delírio. Por mais que a gente grite pra mulher ir para uma direção, ela acaba indo de encontro ao assassino. E o sangue jorra aos montes.
E o mais incrível é que esse roteiro imbecil repete-se filme após filme e possui um público cativo.
É a banalização do cinema-violência.
É certo que nem todo filme necessariamente deve passar uma mensagem que gere crescimento em quem o assiste. Cinema é arte. E arte é prazer, diversão. Mas que divertimento há na violência gratuita?
Assisti recentemente ao último filme( ao menos por enquanto ) da série "Jogos Mortais". O filme é um tributo a imbecilidade humana. Não há história. Existe uma tentativa de enredo, que serve como pretexto para as mais absurdas e grotescas cenas de violência. O Ministério da Saúde deveria avisar que filmes assim fazem mal para o cérebro.
E o pior é que boa parte do público que consome esses lixos cinematográficos são crianças e adolescentes. Eles crescem numa cultura em que cabeças decapitadas não assustam mais.
É preciso cada vez inovar na "criatividade" dos roteiros para agradar as platéias atuais e encher os cofres dos produtores. Isso gera a tão falada banalização da violência, que deve ser combatida por um processo educacional humanitário.
É preciso humanizar as pessoas. Ensiná-las a olhar a dor do próximo como se fosse a sua.
A indiferença para com o sofrimento dos outros faz com que uma geração de egoístas e insensíveis tomem forma na sociedade.
Filmes de Terror deveriam servir como uma fuga da realidade, diversão para alguns. Quando eles começam a refletir ou influenciar a vida real, fora das telas, é porque algo está muito errado.
Ou você está disposto a deixar que seus netos assistam "Jogos Mortais 13" em algum ponto do futuro próximo?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

No Brasil é assim: gosto não se discute! Se lamenta. Ou se debocha. Mas se respeita?

NX zero é sucesso.
E sucesso refletido em números e em prêmios. Mas isso quer dizer alguma coisa?
Particularmente, não sou fã do som dos caras, mas assusta a postura de alguns em relação a jovem banda rotulada de "emo". Pra quê tanta agressividade por parte daqueles que não gostam da banda?
Chamo isso de intolerância. Que no final das contas não passa de burrice. É aquele velho papo de "meu gosto é melhor do que o teu". E o termo "velho" não é só força de expressão. Preconceito musical é problema antigo em nossa sociedade, apesar de sermos um verdadeiro caldeirão de ritmos. Os pagodeiros não simpatizam com os roqueiros, que por sua vez desprezam os sertanejos, que não querem ver os forrozeiros nem pintados de ouro. E assim por diante. Cada "tribo" tende a se fechar, excluindo os diferentes. Daí se vê o tamanho da maturidade dessas pessoas.
Tendo uma cultura rica em diversidade, o mínimo que se pode fazer é ouvir de tudo. Ninguém tá pedindo pra você gostar, mas pra ouvir.
É assim que se conhece música: ouvindo.
Depois disso, é que se vai anexando aquilo que agrada ou não. E música é pra ser tratada como a arte que ela é. Não é um fator para discriminação ou separação de pessoas em grupos ou tribos.
A música une. Não são poucos os casos em que diferenças cruciais são postas de lado por causa da música. E esse respeito é fundamental para construir a sociedade que queremos.
E se não conseguimos respeitar gostos musicais diferentes, como conseguiremos respeitar opiniões, posturas, crenças diferentes?
Ouça de tudo. Curta só o que gostar. Respeite as diferenças.
Assim tocaremos as mesmas notas neste grande concerto chamado Brasil.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Um muro agora. Um murro depois.

Vendo meu voto. Mas não sou nenhum alienado ou ignorante político( pelo menos, acho que não). Só estou decepcionado com tudo o que vejo por aí e quero aproveitar pra lucrar um pouco com isso.
Meu voto está à venda! Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas. Vendido para a simpática senhora que está ali.
Consegui o muro que queria. E ela o voto que precisava. Foi uma troca justa. Agora é só esperar.
...
Puxa! Essa campanha me cansou. Mas cumpri minha parte no acordo. Agora só falta o muro.
...
O Muro ainda não foi levantado. Disseram que houve uma complicação na liberação da verba. Começo a me preocupar. Bem que me disseram pra não confiar muito em políticos.
...
Um Murro. Foi o que recebi no lugar do muro prometido. Um segurança, que mais parecia uma muralha, barrou minha entrada num evento onde minha candidata estava presente. Eu só queria protestar civilizadamente. Pedir o cumprimento da outra parte do acordo. Levei um murro como resposta. Nunca mais entro numa dessa. Dá vontade de sair gritando por aí e chamar minha, agora, ex-candidata de "caloteira". Mas corro o risco de passar por otário, já que vendi meu voto sem exigir uma declaração assinada em cartório. Se bem que isso é ilegal. Mas o que começa errado...
...
Meses já passaram e eu aprendi a lição. Nunca mais venderei meu voto. Vou no máximo alugá-lo. Mas só faço com o dinheiro na mão. Jamais confiarei novamente em promessa de candidato. O Murro que levei me ensinou uma lição preciosa. Nunca confiar no ovo que ainda está dentro da barriga da galinha. Ou num muro de tijolos abstratos.
Agora, tenho que ir. Estou atrasado. Negociarei meu voto com um futuro candidato a deputado. Mas já estou precavido. Gravarei toda a conversa. E contratei um auxiliar para o caso de algum murro aparecer. Afinal, a dor é a melhor professora e a esperteza é a melhor moeda de troca.
Pena que não tenho muita.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 26 de julho de 2008

Como me tornei um serial killer ( E sem sujar minhas mãos!!!)

A primeira morte até que me chocou.
Mas depois a gente se acostuma. O negócio ruim é o vermelho. A cor do sangue. Ver ele respingando do corpo de alguém é algo meio traumático. Só que depois de tantos cadáveres, o sangue vira só mais um efeito, um complemento do show. E que show.
Me especializei nas mortes a sangue-frio. Vacilou comigo, o cara perde logo a cabeça. Ou então, eu crivo ele de balas. Se bem que gosto mesmo é de atropelá-los com meu carro. Vê-los sendo arrastados ou esmagados pelos pneus.
Alguns amigos, que compartilham do meu vício, dizem que sou craque em tiro à distância. Peço pra eles não espalharem para não atiçar a concorrência. No meu ramo mortal de negócios, se você é bom logo querem tomar seu lugar. E eu ainda sou muito novo pra pensar em aposentadoria. Ainda não cheguei na marca de mil corpos. Quero ser o Romário do mundo dos assassinos em série.
Só não gosto muito de matar velhinhas. Mato, mas não gosto.
Elas são frágeis demais. Nem aguentam uma torturazinha mais demorada. Mas tudo bem. Sempre há mendigos aos montes pra eu poder testar meus talentos incendiários.
E já planejo meu golpe de mestre. Matar o presidente.
O Gabriel disse que matou e ficou feliz. Pois agora é minha vez. Vê se te cuida, nove dedos!

Que droga! Meu pai acaba de cortar o meu barato. Disse que chega de mortes pra mim. Tudo porque não estou indo bem na escola. Ah, se eu pego esse professor de matemática!
Papai tirou meu computador e cortou minha mesada.
E agora? Como vou prosseguir com minha carreira de assassino em série?
Vou mudar de profissão. Mas antes, treinarei alguns métodos de extermínio rápidos e mortais. Só preciso de uma cobaia.
Será que meu irmãozinho já acordou?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Ir embora, sem nunca dizer adeus.

Milton tinha um sonho.
Uma vida melhor para sua família. Para sua amada esposa e seus adorados filhos. Exatamente como a maioria dos brasileiros trabalhadores e honestos do nosso país.
E ele lutou por esse sonho. As barreiras que surgiram foram vencidas. Os obstáculos foram ultrapassados. O sonho tomou uma forma concreta.
E muito mais vinha pela frente. Até que o inesperado aconteceu.
Na última vez que conversamos, seus olhos brilhavam de emoção. Era a reunião bimestral da Escola, e todos os elogios foram direcionados para Taynara e Erik, dois alunos maravilhosos, fontes de imenso orgulho dos pais. Eles são a concretização do sonho.
Milton foi embora, mas não disse adeus.
Não precisava, pois em essência ele ainda está aqui. Em cada sorriso de Erik. Em todas as atitudes de Taynara. Nas vitórias que ambos ainda vão alcançar. Esse é o grande legado do amor de um pai.
Sabemos que o "daqui pra frente" não vai ser fácil, mas Deus está presente em meio a dor, consolando, fortalecendo, carregando toda a família em seus braços de amor.
E ainda há muito do sonho a ser vivido.
Um sonho que começou com um pai e continuará em seus filhos.

Erik, Taynara, essa é pra vocês.
Palavras não vão fazer a saudade ou a dor irem embora, mas ajudam a suportá-las.
E a cada dia, que a lembrança do amor de Milton seja a força motivadora da vida abençoada que vocês têm pela frente.
Um forte abraço.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A macumba é Universal.

Fui abandonado pela minha mulher.
Vivo pendurado em dívidas.
E meus filhos não me respeitam nem um pouquinho.
Segundo o pastor que está falando na televisão, tudo isso acontece porque tem um "encosto" na minha vida, que me acompanha desde muito tempo. E para me livrar deste espírito ruim, preciso de uma sessão de descarrego. E nada de ir a um terreiro de macumba. Não! Nada disso! Devo ir à Igreja. Somente lá serei exorcizado deste encosto que me atormenta. Mas toda bênção exige um sacrifício. E o meu deve ser financeiro. Deve ser proporcional a minha fé. E compatível com as necessidades financeiras do pregador exorcista.
Fui à Igreja e já adquiri todo um conjunto de objetos para santificar e abençoar minha vida. Já tomei banho com o sabonete perfumado do arcanjo Miguel. Já espalhei um pouco da areia sagrada de Israel por toda a minha casa e bebo da água abençoada pela oração da fé todo santo dia. Participo de todas as campanhas milagrosas bancadas pela Igreja. Já lutei contra "os gigantes Golias", derrubei os "muros de Jérico", pisei nas "cabeças da serpente".
Mas minha vida continua na mesma. Por que será?
O pastor disse que é por que ainda tenho muitos pecados não-confessados e praticados. E isso impede que a prosperidade esteja sobre minha vida.
É verdade. Vejam o pastor. Ele é um homem abençoado por Deus. Tem um belo carro, mora em um condomínio de luxo, anda sempre alinhado. Ontem mesmo chegou de uma viagem de férias pela Europa. É essa bênção que eu quero pra mim.
Mas pensando bem...
Minha mulher me abandonou porque estava cansada de minhas escancaradas traições.
Meus filhos não me respeitam porque eu nunca me dei respeito também. Vivia bêbado em casa e os tratava como se fossem dois cachorros.
E minhas dívidas só aumentam porque gasto de forma irresponsável, querendo ostentar posses que não tenho.
Não há encosto em minha vida. Só o da cadeira onde estou sentado.
Me sinto enganado. Acreditei nos discursos do pastor, pois é mais fácil atribuir culpa a um demônio do que admitir que sou responsável pelo o que minha vida se tornou. É mais confortável acreditar na "macumbaria evangélica" do que confiar unicamente em Deus, dependendo dEle pra mudar de vida mediante minhas atitudes de homem arrependido.
Hoje, eu acordei. Mas o pastor continua lá. Como lobo em pele de ovelha. Ensinando uma fé baseada em artefatos místicos, não-bíblica, que dispensa a confiança única em Deus. Criando uma geração de "crentes macumbeiros".
A mesma macumba tão condenada pela Igreja.
A razão disso tudo?
O amor ao dinheiro que, independentemente da época histórica, continua sendo a raiz de todos os males.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um Arquivo diferente.

Mulder suava bastante.
Ainda não estava acostumado ao calor escaldante do Nordeste, mas apreciava bastante a paisagem do litoral ludovicense. O governo brasileiro pediu ajuda ao FBI para solucionar estranhos casos de desaparecimento nas ruas do Centro Histórico. As poucas testemunhas relatam que os desaparecidos foram levados pela carruagem de Donana Jansem. Iriam se tornar os eternos condutores de seus cavalos com cabeça flamejante. O fato é que sumiram sem deixar vestígios. Um caso típico para os agentes dos Arquivos X.
Scully ainda não conseguia entender como Mulder a convencia a investigar casos tão bizarros. Estavam juntos há pouco tempo, mas ele transpirava confiança e credibilidade. Talvez essa fosse a razão. Porém, o que a incomodava era sentir-se desnecessária. Tudo devia passar de crendice popular alimentada pelo medo natural daquilo que nos é desconhecido.
Mulder achava que não. Acreditava que estávamos diante de um caso raro de abdução paranormal. E não sairia daqui sem uma resposta.
A noite caiu sobre a cidade e os dois agentes montaram acampamento na praça Nauro Machado. Era noite de lua cheia e Scully encantou-se com a apresentação do Tambor de Criola. Enquanto isso, Mulder entrava em contato com a população local.
Ofereceram-lhe um pouco de "cachimbo da paz". Aberto a novas experiências , Mulder aceitou. Scully o achou meio fora do normal, até mesmo para os padrões dos Arquivos X. Mas não deu tempo de analisar direito a situação.
Gritos de socorro chamaram a atenção dos agentes. Scully e Mulder dividiram-se. Enquanto ela dirigiu-se para os "labirintos" do Mercado da Praia grande, ele subiu rapidamente em direção à Escola de Música Lilah Lisboa.
Os anos investigando casos sobrenaturais prepararam Mulder para o inesperado, mas ainda assim, estava maravilhado com o que via. Uma enorme carruagem, com tons fantasmagóricos, vinha em sua direção. As ruas escuras eram iluminadas pelo fogo oriundo dos cavalos.
Mulder pensou em sacar da arma, mas antes disso, mãos firmes o pegaram, colocando-o para dentro da carruagem, que sumiu nas ruas desertas do Centro Histórico.
Scully conseguiu deter os criminosos que ameaçavam um grupo de turistas. Deixou-os com a polícia local e partiu atrás de Mulder. Mas não conseguiu achá-lo.
As buscas por Mulder começaram imediatamente. Mas foram em vão. Não havia sinal dele em lugar algum. Scully não descansou e passou a madrugada à procura do parceiro.
Mulder foi encontrado desacordado na manhã seguinte, em uma rua perto do Arthur Azevedo.
No hospital, Scully detectou a presença de uma forte substância alucinógena na corrente sanguínea de Mulder, que deve tê-lo feito vagar por aí durante a noite anterior sem saber onde estava ou para aonde ia.
Mas Mulder tinha outra explicação.Foi levado pra dentro da carruagem mística. Lá, uma estonteante mulher o seduziu e o levou para o leito. Lembrava somente de algumas cenas do que aconteceu depois, mas aquele perfume jamais sairia de sua cabeça.
Entretanto, Scully dava o caso por encerrado. Não havia assombração alguma na ilha. Apenas um surto de alucinações causadas pela mesma substância que Mulder usara.
Os outros desaparecidos foram encontrados nas mesmas circunstâncias que Mulder.
Este arquivo X estava encerrado.
Porém, apenas Mulder sabia do "sacrifício" que teve que fazer para saciar a Senhora da carruagem. Vai ficar sonhando com ele por meses.
Antes que fossem embora, Mulder perguntou a Scully o que ela sabia sobre serpentes marinhas gigantescas que habitavam o subterrâneo de ilhas brasileiras.
Scully sorriu.
E tratou logo de entrar no táxi.

Gilberto Cardoso em homenagem aos Arquivos X, a melhor série de tv de todos os tempos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O Melhor nos candidatos.

Pobre Ivete.
A bela cantora baiana deve estremecer ao ver seus hits sendo copiados por todo o país durante as campanhas eleitoreiras. Digo "eleitoreiras" pois o que vemos não é eleição. É um verdadeiro circo. Você já parou pra pensar nas letras das musiquinhas de campanha? É uma enxurrada de frases bem elaboradas por marqueteiros profissionais(e muito bem pagos) no intuito de levar o eleitor no embalo da conversa fiada.
E não é que conseguem?
Se pararmos pra observar, segundo o evangelho das musiquinhas, todo candidato é jovem( ainda que não pareça ser), trabalhador( embora não se veja ou se verá o fruto desse trabalho) e conhecedor das mazelas de sua localidade( mesmo que o dito cujo nunca tenha morado nela). Falta de criatividade dos compositores? Não! Eles só apenas sabem o que o povo quer ouvir e o colocam embrulhado em alguma melodia de sucesso. E haja paciência e ouvido para aguentar a mesma ladainha musicada diversas vezes ao dia.
As músicas deveriam retratar a realidade sobre o candidato.Imaginemos por exemplo como ficaria a campanha de certo candidato embalada pela melodia da música "Poeira" da musa Ivete:
"Nogueira, Nogueira, Nogueira/ Vai ser ladrão a vida inteira!"
Viu? Assim é que devia ser. É bem provável que ele não ganhasse a disputa, mas ao menos falaria a verdade. Pena que a verdade não é um item muito apreciado no meio político. E por essa razão mais musiquinhas irão surgir. Estamos cercados.
Mas também, o quê podemos esperar de uma nação onde o que há de melhor nos candidatos é a música?
Caro eleitor, abra os olhos e feche os ouvidos. Enquanto dançamos nas melodias dos corruptos, nosso dinheiro dança no bolso deles.
E as musiquinhas até podem ser legais, mas não são elas que vão governar.
Quem governa são os pilantras por trás delas.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Se Deus é brasileiro, O Diabo é americano!

Imagino Deus ansioso, esperando para ver a cobrança do pênalti, já sabendo o que ia acontecer. A seleção Canarinho ia deixá-lo na mão de novo. Como somos miseráveis! Deus torce por nós e nós pecamos. Erramos literalmente o alvo. Ainda bem que Ele é brasileiro, senão já teria mudado de time. Depois que Israel tornou-se o Faraó para os palestinos e os americanos colocaram Bush na Casa Branca, Deus adotou nosso país como nação eleita. Morram de inveja, argentinos. Deus é nosso agora.
O Diabo adora copiar Deus. Deixou de lado nações árabes( que são evidentemente satânicas)como o Iraque e abraçou os ianques. O Diabo agora usa listras azuis e vermelhas, curte um hip-hop e adora um basquete. Até conhece o presidente. Os dois almoçam juntos todos os domingos. Mas o Diabo traz sua própria comida. É bom não confiar muito. Vai que os americanos resolvem tomar o lugar dele.
Enquanto isso, Deus está às voltas com seu novo povo. Ô povinho complicado. Só Deus pra ter paciência mesmo. Outro dia, um grupo deles pediu uma audiência. Queriam que Deus trouxesse o Corinthias de volta para a primeira divisão. "Mas será que esse povo só pensa em futebol", pensou Deus.Despachou o grupo afirmando que a época dos milagres já passou. E já estava atrasado para o encontro com o presidente. Mas Lula que O esperasse. Os Simpsons estava pra começar.
Até que o Diabo estava se saindo bem com os americanos. Era uma ocupação militar aqui, uma pequena tortura aceitável ali. Ele nem precisou transformar aquilo num inferno. Os americanos já estavam fazendo isso. O problema era alguns fundamentalistas cristãos que resolveram ficar na América. Viviam falando mal do Diabo. Diziam que Deus iria voltar pois a nação americana era muito preciosa e tinha um papel fundamental na história da humanidade. É. os Iraquianos que o digam.
Deus olhou para o presidente esperando uma resposta. Queria saber a soma de dois mais dois. Nem isso ele sabia. Deus lembrou de Bush. Sentiu um pouco de saudade. O pateta americano pelo menos sabia contar. Já o brasileiro não sabia de nada, não via nada. Botaram um cego na presidência. E ainda tinha a amizade com Fidel e Chavez. Nada contra eles, mas Deus só não gostava de concorrência.
O Diabo se aperreou. Não satisfeitos em dominar o mundo, os americanos resolveram fazer um passeio pelo inferno. Chegaram lá botando banca, demarcando território. E expulsaram o pessoal do Diabo. Agora, ali era mais uma colônia do Tio Sam. Foi pro Diabo aprender que ele não é o único demônio no mundo.
Esse povo brasileiro parece que não tem jeito mesmo. Viviam pedindo ajuda de Deus na hora do aperto. Mas depois que a tempestade passava, esqueciam dEle. Isso cansou.
Deus abdicou da cidadania brasileira.
E o Diabo pediu asilo político aos russos.

E o mundo seria um lugar mais tolerável se as nações parassem de reivindicar uma nacionalidade para a divindade.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 20 de julho de 2008

Que droga!!!( O relato verídico de um viciado em Coca).

Fui criado em um lar amoroso, cristão. Ia para a Escola Bíblica todas as manhãs de domingo. Cresci nesse ambiente de Igreja. E para minha tristeza, foi lá que a conheci.
Tinha apenas sete anos. Meus pais cuidaram bem de mim. Às vezes, até me super-protegiam. Mas eles nunca imaginariam que iria me tornar um viciado.
Como toda criança sempre fui curioso. Me disseram pra cheirar, pra ver se eu gostava. E assim foi. Aquilo me encantou. Me envolveu. Não apenas cheirei. Tomei tudo de uma vez só. Minha vida mudou a partir desse momento. Não podia mais viver sem ela. Queria sempre mais. Nunca estava satisfeito. Era no almoço, na merenda, no jantar. Meus pais não gostavam muito da idéia, mas como me amavam não sabiam dizer "Não" para mim.
E esse foi o grande erro deles.
Enquanto o tempo passava, minha dependência dela aumentava também. Tornei-me um adolescente da Coca. Só fazia algo se estivesse ligado nela. Terminei namoros porque as meninas não gostavam dela. Briguei com amigos que queria que eu a deixasse. Gastava a maior parte da minha grana sustentando o meu vício. Até que não aguentei mais. Tive uma overdose por causa do uso da Coca pura.
Às vezes, nós vivemos de modo egoísta, achando que ninguém pode nos vencer, que nada pode nos abalar. Então, a vida nos dá uma rasteira e chegamos ao fundo do poço.Nunca quis ter "emoção pra valer" ou "viver o lado Coca da vida."
Eu tento deixar o vício. Mas é muito difícil. Meu organismo já depende dela. Não quero que essas palavras sejam esquecidas, jogadas ao vento. Por isso, peço que ouçam meu testemunho e que minha história sirva como um alerta sobre o perigo das drogas.
Os homens gananciosos que a produzem fazem de tudo para popularizá-la. Colocam-na em filmes, nas mãos de cantores e artistas famosos. Até associam o consumo da Coca com o nacionalismo em tempos de Copas do mundo e de Olimpíadas.
Sei que desperdicei boa parte da minha vida e que tenho uma longa estrada de recuperação pela frente, mas hoje tenho consciência.
A Coca é uma droga e na minha vida ela não Cola mais.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Sexo antes do casamento não é bom! Pode atrasar a cerimônia!

O título acima é uma piada. De gosto duvidoso, mas piada. O mesmo pode-se falar da castidade. Dá pra levá-la a sério em mundo cada vez mais impulsionado pelo sexo? A Igreja é bem rígida quando se trata do assunto e exige obediência cega dos fiéis, que não obedecem nem aos próprios pais quanto mais ao Papa. E debaixo do chicote da fé, o sexo vai sendo tratado como algo que nos traz vergonha. Necessário é verdade, mas de certo modo, pecaminoso. Não foi ele que derrubou Adão e Eva do paraíso, segundo o que dizem alguns cristãos desinformados?
A questão é que sexo vende. E vende bem. O mercado pornográfico brasileiro é um dos que mais cresce( se não for o mais). E esse crescimento depende da prática, muitas vezes precoce, da relação sexual. Daí para a propagação de doenças venéreas é um pulo só. A AIDS cresce nesse ambiente também, mas os filhos indesejados não. Esses são vitimados pelos abortos criminosos das clínicas clandestinas ou dos banheiros obscuros de uma casa qualquer.
Desse modo até parece que a castidade é o que falta para tornar o mundo um lugar melhor. Mas não é bem por aí.
O problema da Igreja é a imposição. Ela não convence, manda. Não ensina, obriga o fiel a engolir goela abaixo seu modo de pensar sobre algo. E isso obviamente não dá certo. Como resultado, vivemos em uma das maiores nações católicas do mundo, entretanto os fiéis ignoram as mais simples orientações de seu líder máximo.
Tanto desejo de controlar os passos dos devotos faz com que as pessoas se afastem do evangelho e proporciona atos que beiram o absurdo como condenar o uso de preservativos em uma sociedade sexualmente ativa e vitimada pelo HIV.
Castidade ou não é escolha do próprio indivíduo. As imposições da Igreja não vão torná-la realidade. E também não serve para medir o caráter de alguém. É decisão pessoal baseada nos princípios de fé e moral que adquirimos durante o crescimento.
As posições extremistas é que devem ser condenadas. Não somos animais para viver em um eterno cio, com uma parceira hoje e cinco amanhã, mas também nem todos receberam o dom do celibato, ao que parece, tão desejado pela autoridade papal.
O fato é que sexo é bênção de Deus. É compartilhamento de vida, de amor.
Com responsabilidade e no momento adequado, escolhido por você e por mais ninguém.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 19 de julho de 2008

Ado, aado, vão ver o sol nascer quadrado???

No quesito criatividade, somos incomparáveis. Damos ao mundo várias contribuições que ficarão na história, como a dança da vassoura, da boquinha da garrafa e a do créu. Agora despontamos com a dança do quadrado. Até que é divertida na sua boba futilidade.
Fico imaginando figurões acusados de corrupção, como Daniel Dantas, cantando a já conhecida melodia. Diriam : "Ado, aado, não vou ser trancafiado". Parece até que já imaginavam o dilema "Tranca e Solta" que atingiu o judiciário brasileiro.
E isso não é de agora. As liminares sempre existiram e sempre existirão. São parte do processo legal de uma sociedade democrática. Mas como explicar isso para uma população cansada de ver tantos impunes e soltos por aí?
Onde estão os deputados envolvidos no chamado "Mensalão"? Presos é que não. Alguns até mesmo se reelegeram e estão de volta ao Congresso Nacional, sendo pagos com dinheiro do contribuinte. Nosso dinheiro. Isso sem mencionar outras denúncias que atingiram a sociedade só nesses anos de desgoverno do PT. O próprio Collor voltou. E voltou com o consentimento dos seus eleitores. Fazer o quê, ?
Essa época de denuncismo que vivemos no Brasil tem um lado positivo, mas também acaba caindo no lugar-comum. Uma denúncia é feita, pessoas são presas e logo depois são soltas. E depois tudo começa de novo.
Até a próxima corrupção ser escancarada.
Aí, voltamos a falar sobre rios de dinheiro que são desviados e jamais devolvidos aos cofres públicos. A Polícia Federal até que faz a parte dela, mas esbarra nas brechas das leis brasileiras, na estrutura do poder judiciário, que na pretensão de ser igual com todos, privilegia alguns.
É difícil olhar para a futura geração e vê-la como parte de uma sociedade onde a honestidade prevalecerá. Difícil, mas não impossível.
Pra cada Daniel Dantas, existe centenas de Josés, Marias. Centenas de pessoas como você. Que desejam sinceramente que nosso país torne-se uma nação melhor, com direitos iguais para todos.
Um pais onde os corruptos certamente ouvirão:
"Ado, aado, vão ver o sol nascer quadrado".

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Se não podem com eles... Juntem-se contra eles!!!

Estava cansado.
Por mais que tentasse, seus planos para derrubar o dito cujo nunca davam certo. Descavava denúncias de corrupção, mas um séquito de advogados sempre livravam a cara o seu adversário. Alertava as pessoas acerca das mentiras contadas por ele, mas ninguém o ouvia. Parece até que o sujeito era inabalável. Por isso ficou surpreso quando recebeu a proposta . Uma singela proposta para deixarem as diferenças de lado. Irem pro mesmo lado. Afinal, juntos poderiam muito mais.
Pensou no que fazer diante de uma situação dessa.

A história acima pode ser inventada, mas o problema é real. Existe uma instabilidade gigantesca na chamada "oposição" neste Estado e Nação. Os inimigos mortais de hoje serão os bons companheiros de amanhã. São comprados por algum benefício futuro ou por algum dinheiro do presente. O consenso geral para algumas pessoas é que todos têm um preço e que ideologias não possuem valor algum.
Só que não é bem por aí, não.
Integridade não se compra. Honestidade não se vende.
Em vez de unir-se aos corruptos e fazer parte desse jogo de interesse pessoais, devemos é manter firme a convicção daquilo que é certo. E não nos vendermos física ou ideologicamente para o que é legalmente errado.
Juntar-se contra eles, os poderosos que acham que mandam em tudo e em todos, é a opção que nós devemos seguir. Entretanto, nossa cultura é de submissão, subordinação, aceitação do modo mais "fácil" de resolver um dilema. É a praga do "jeitinho brasileiro", que não dá jeito em nada.
A melhor forma de resistência contra essa bagunça que estar aí é manter-se firme nos princípios da honestidade, da ética, da luta por um bem comum, partilhado por todos.
Sozinho, eu não posso com eles.
Mas juntos, nós alcançamos o impossível.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa.

Em terra de cego, quem tem um olho é servo.

Vale a pena ser honesto?
Pergunta difícil. Ainda mais se levarmos em conta a sociedade em que vivemos. Entretanto, tudo tem relação com os princípios que você tem adquirido desde pequeno. Você veio ao mundo para ser servido ou para servir? Para fazer a diferença ou ser mais um na multidão?
Nosso país há muito tempo já foi dominado pela corrupção, mas não é impossível ser honesto em uma sociedade onde quase todos querem se dar bem, sair ganhando sempre.
O mundo não é dos "espertos". Pertence a todos.
Olhando por essa ótica, honestidade vale a pena.
Não dá lucros ou prêmios, mas constrói o caráter. Não importa se a maioria das pessoas é do grupo dos "espertos", que sempre querem ganhar. Seja do grupo dos que fazem a diferença.
Alguns afirmam que fazer isso não é uma opção válida. Afinal ninguém vai matar pra se dar bem, mas ficar pra trás vendo os outros crescerem? E um dia, quando o país mudar, defenderão a bandeira da honestidade.
Podemos esperar até lá?
Faça a diferença.
E saiba que você vai ficar pra trás, pois estará ajudando outras pessoas a caminharem também.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Não é so ladrão... que corre da polícia!

Anos 80

Corram que a polícia vem aí.

Esse era o título de uma série de filmes que fizeram um grande sucesso. Neles um atrapalhado agente policial resolvia os mais complicados casos com muito bom humor.

Julho de 2008.

Corram que a polícia vem aí.

A frase acima adquiriu um novo significado. E nada engraçado. Como explicar tamanha imprudência da polícia em tão pouco espaço de tempo? Não podemos considerar as vidas que foram perdidas como meros danos colaterais. E muito menos, estáticas em uma guerra civil não declarada que parece não ter fim.
Em todos os recentes casos de violência policial, a polícia atirou primeiro. Mandou bala sem se importar com as consequências. Alguns deles ainda usaram a digníssima expressão "fizemos uma cagada" ao perceberem o assassinato que cometeram por irresponsabilidade, despreparo.
"Cagada" é o que as incompetentes autoridades deste país fazem todo dia em cima da população. A ausência de investimento em segurança pública, na qualificação de policiais gera isso que nós vemos hoje.
Vamos recorrer a quem? Aos traficantes? Às milícias organizadas que querem exercer as funções que cabem ao Estado?
Não! Eu ainda acredito na polícia.
Não nos bandidos de farda que sujam o nome da instituição, mas no enorme contingente de homens e mulheres que dedicam a vida para proteger ao próximo. A polícia não deve ser extirpada. A corrupção sim. É ela que faz a propina existir no momento em a lei deve prevalecer. Que permite que criminosos de farda sejam tratados de forma impune. É preciso limpar a polícia. Caso contrário, os bons homens da Corporação serão subjugados pelos maus.
E isso é algo que ninguém pode aceitar.
Para que cheguemos ao momento em que corremos para a polícia.
E não da polícia.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Do Relento ao Sucesso.

Foi assim que a história dele começou.
No princípio não se via algo a mais. Grande engano.
Todos nós temos algo a mais. escondido talvez. Inexistente jamais. Só era preciso encontrar o que se sabia estar lá.
O primeiro contato até que foi amistoso, mas não dava pra perceber a genialidade que ali se veria meses à frente. Entretanto, pouco a pouco, sua luz própria foi surgindo. Era um comentário aqui, uma boa idéia ali e ele foi sendo percebido e chamando a atenção.
Não de uma maneira produtiva. E isso o fez conhecer o relento pela primeira vez. Entretanto, podia ver o algo mais.
Durante um tempo, o relento parecia ser destinado para ele. Mas, havia algo a mais.
Então de forma inesperada, surgiram bombas.
Investiga um, pressiona outro. Até que chegaram nele.
Foi uma das primeiras vezes em que conversamos pra valer. Eu só queria entender o porquê. E saí da conversa com muito mais do que queria. As lágrimas que saíram dos olhos daquele garoto me marcaram. ajudaram-me a enxergá-lo de verdade.
Vi o algo a mais.
Tinhamos um desafio pela frente. Ajudá-lo a enxergar-se como ele realmente era.
Minto se digo que foi tarefa fácil. Mudanças nunca são fáceis. Mas essa só existiu porque uma família amorosa estava sempre apoiando-o em todos os momentos.
O primeiro passo foi dado. Um erro corrigido. Um adolescente foi restaurado.
Mas por que não tentar vôos mais altos?
O mais legal nessa história é acreditar em alguém quando nem ele mesmo acredita. E isso é a maior recompensa em ser um educador.
Fomos avançando passo a passo. vencendo as barreiras do conhecimento. E como em toda boa conquista de um objetivo, houve um momento em que ele parou. Talvez por causa do cansaço. Ou então da própria insegurança da idade. O fato é que a caminhada parou.
Mas não por muito tempo. Deus tinha outros planos.
Nosso pequeno gênio encontrou-se com outros. Mesma idade, mesmos objetivos, mesma vontade de vencer. E algo incrível aconteceu.
Ele conseguiu.
Ainda que muitos achassem que não, ele conseguiu.
E não apenas a aprovação em algum concurso. Isso foi o de menos. Ele conseguiu crescer. Em caráter, personalidade, no coração.
Hoje, não é mais um aluno. Virou amigo, irmão. E fonte de imenso orgulho e alegria para todos os que o amam de verdade.
E Carlos tem apenas 15 anos.
Já imaginaram o que ele vai ser daqui pra frente?

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 13 de julho de 2008

Um mundo em preto. E mais ou menos branco!

Havia negros por todos os lados.
Sentiu-se um peixe fora-da-àgua. E todo mundo o olhava como se fosse um mesmo. Sua pele clara e olhos azuis contrastavam com o negro predominante na maioria dos outros alunos.
Logo na entrada, encontrou-se com um velho amigo de infância limpando o corredor do curso de Direito. Lembrou-se dele, de como diziam que teria um futuro promissor, apesar de ser branco. E agora estava ali. Tanto potencial desperdiçado em um balde e esfregão.
Não entendia como o país podia ser tão racista, discriminador. A maioria branca e pobre era relegada a segundo plano, enquanto a minoria negra gozava dos benefícios do poder. Conseguiu a vaga na universidade pública por meio do "discutível" sistema de cotas para brancos. Ainda na primeira aula, sentiu o peso das desigualdades em um país continental. Um grupo de alunos negros, prejudicados pelas cotas, fizeram um barulhento protesto em frente à universidade.
Sentiu-se meio culpado, mas o que podia fazer?
Nunca teve oportunidade na vida e não podia perder essa porta de entrada para o ensino superior. Ainda mais no curso de Direito, onde a elite negra predominava. Quantos advogados ou juízes brancos existiam? O mínimo do mínimo!
Os brancos sempre foram tratados como seres inferiores, incapazes, mentalmente involuídos. Claro que nem todo negro pensava assim. Alguns intelectuais pregavam o respeito às diferenças existentes nos seres humanos e que todos deviam ser tratados de forma igual. Eram brancos, mas eram humanos em primeiro lugar. Todos eram humanos.
Entretanto a mídia era dominada pela "beleza negra". Os grandes atores, cantores e apresentadores eram negros. Os brancos eram sempre retratados como uns pobres coitados , marginais ou traficantes. Ser branco era como ser parte de um grupo à parte, portador de alguma doença contagiosa.
Por isso, o governo estabeleceu o programa das cotas pois era consciente de que o voto dos brancos também é válido. Não era uma solução, mas ao menos mascarava um pouco. E deixava os brancos mais felizes. As leis raciais também ajudavam a estabelecer a idéia de um país uniforme. Chamar alguém de "giz", "leite" ou qualquer outro termo discriminatório por causa da cor da pele era crime inafiançável.
E dessa forma, uma nação multicolorida estava sendo formada.

Só esqueceram de dizer que o racismo é uma coisa sem sentido. E sobre qualquer forma ou cor, trata-se da mais rudimentar burrice.
E nada mais além disso.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

E eles é que são os mocinhos?!

Foi-se o tempo em que para alavancar a audiência de um programa ou para lucrar em cima de uma película apelava-se para tórridas cenas de sexo. Todo mundo topava agüentar alguns minutos de trama desconexa, se ao final , fosse recompensado ao ver os "dotes artísticos" da siliconada da vez. Mas isso é passado. O carro-chefe de nossa cultura de entretenimento atual é a realidade nua, crua e violenta. Com bastante ênfase na violência. Quanto mais sangue, balas perdidas, crueldades dignas do inferno e sangue( novamente) aparecerem melhor. Melhor para os cofres dos produtores, é claro.
E entre tantas realistas-oportunistas, ainda dá pra achar uma pérola que vale a pena o valor da entrada e as quase duas horas dedicadas para assisti-la. Refiro-me a "Tropa de Elite" do diretor José Padilha ( autor do também ótimo "Ônibus 174". Assista se puder).
O filme virou um fenômeno, não só pelo elenco afiado, mas por trazer o BOPE para a boca do povo, ao mostrar policiais que primam pela honestidade e combatem a violência absurda dos morros cariocas com mais violência ainda.
E há algum mal nisso?
Vivemos em um mundo nem branco, nem preto. Mas cinza. Assim como no filme, é difícil definir quem é mocinho e quem é bandido se ambos usam os mesmos métodos. É claro que a violência não deve ser combatida com flores, mas até quando vai prevalecer no país a lei do "atire primeiro, pergunte depois?"
É fácil para nós olharmos as ações duras da polícia e aplaudirmos de pé. Não vivemos essa realidade. Agora, pergunte a algum morador de favela carioca ou de comunidade carente de qualquer parte do país, que já foi vítima de violência policial ou de bala perdida, o que ele acha do método " violência contra violência."
É preocupante perceber que boa parte dos nossos jovens estão inseridos de tal modo nesse contexto que transformaram o símbolo do BOPE em um dos mais copiados da internet.
Estamos perdendo a guerra contra a violência , uma vez que cedemos a ela. É preciso fazer algo para transformar essa realidade. Ações práticas e não atitudes utópicas. Passeatas pela paz chamam atenção, mas são de pouca utilidade. O que vale mesmo é a união popular pela cobrança de políticas públicas por parte de nossos governantes.
É por aí que a mudança se origina. Sem falar que a Educação deve virar prioridade em cada canto deste país. E falamos de um processo educacional contínuo que estimule a crítica, a produção de pensamento livre, sem amarras ou alienações do sistema desigual em que estamos inseridos.
E quando assistir a "Tropa de Elite", assista até o final. Ele não é um elogio a violência, mas sim uma constatação do quão cinza é o mundo ao nosso redor.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Fragmentos de uma campanha ( O passo a passo de um canalha)

15 de Janeiro de 2008.

Começam os preparativos pra campanha. Meu grupo de aliados confia sinceramente em mim. E eu não confio nem um pouco neles. São um bando de oportunistas, querendo uma fatia do meu bolo. Vou deixar que pensem que estamos do mesmo lado. O meu lado.

27 de Fevereiro de 2008.

Reunião para arrecadação de fundos. Os empresários da região fizeram generosas doações. Terei que recompensá-los durante minha gestão. Faço um caixa-dois para minhas próprias necessidades pessoais. Aproveito para ampliar a piscina da minha casa de praia.

30 de Abril de 2008.

Apesar de ser um ateu convicto, dou a palavra em alguns cultos evangélicos. Penso em colocar um pastor como vice. É bom pra imagem. E se o outro lá conseguiu por que eu não?
Faço enormes sacrifícios para a campanha. Hoje tive que abraçar um bando de crianças pobres, feias e barrigudas. Deviam estar cheias de lombrigas. Ainda bem que tenho desinfetante em casa.

26 de Junho de 2008.

Defendo publicamente a candidatura do meu sobrinho à câmara municipal. A oposição acusa-o de oportunista. Dizem que ele não conhece o município. E é verdade mesmo. E desde quando é preciso conhecer algo para legislar?
Bem, minha campanha segue em frente. Já tenho até grupos de orações a meu favor. Esses crentes não são maravilhosos?

18 de Agosto de 2008.

Meu primeiro comício foi um sucesso. Os militantes levantaram bandeiras e bateram palmas a cada palavra que eu dizia. Também, com 10 reais por dia, se for preciso quero até que beijem minhas mãos. Estou gastando muito na campanha. Vou repor tudo desviando verbas durante meu governo. Se alguém desconfiar, faço como Lula: não vejo nada, não sei de nada. E imito cara de pobre.

29 de Setembro de 2008.

A campanha chega ao auge. Entretanto pesadas denúncias de compra de votos caem sobre minha pessoa. O partido sai em minha defesa. Com um pouco de lábia e marketing, o caso é abafado. Sigo vitorioso para o dia da eleição. E com tantos laranjas bancados por mim, essa não tem pra ninguém.
Obs: Por via das dúvidas, devo lembrar de desenterrar algum podre do meu adversário e colocar em exposição no jornal da cidade.

05 de Outubro de 2008.

Sou carregado pelas ruas do município por um grupo de eleitores felizes e esperançosos. Minha vitória foi esmagadora. Passo pelos comitês dos meus adversários rindo à toa e soltando rojões. Já planejo a compra dos vereadores da nova Câmara. Gastarei uma grana, mas será um investimento seguro já qua a chave dos cofres públicos ficará comigo.
Mas nada de moleza não! A partir de amanhã, começo a construir a base para minha campanha ao governo do Estado. E quem sabe no futuro, à presidência.
Lula conseguiu, eu consigo também. Temos cara-de -pau, os pobres nos amam e amamos incondicionalmente o poder. Mas em uma coisa eu o supero.
Tenho um dedo a mais.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.




sexta-feira, 11 de julho de 2008

Mais desculpas... para mais pessoas!

Desculpas.
Foi com essa palavra que o secretário de segurança do Rio de Janeiro se dirigiu à família do pequeno João.
Desculpas.
Como se o simples pronunciar da palavra pudesse transformar a situação e amenizar a dor da perda. É certo que não foi o secretário que apontou a arma que vitimou o garoto. Nem tampouco o governador. Mas o que acontece nas grandes cidades brasileiras é resultado direto de anos de políticas públicas mal-direcionadas na área de segurança. Por causa da omissão dos governos de hoje e de ontem, temos o caos do momento. E o que mais incomoda não é isso.
O que mais incomoda, o que mais dói é ver a angústia de alguém que foi marcado pela violência. O sentimento de impotência diante de uma situação inesperada, trágica.
Não adianta pedir desculpas. É preciso mais. Uma polícia despreparada só vai perpetuar barbaridades como as cometidas recentemente. Quantas vidas terão que ser perdidas até que algo seja feito de concreto?
Recentemente, o filme "Tropa de Elite" trouxe a truculência policial para a pauta do dia. Muito se falou, muito se discutiu sobre os métodos aplicados pela polícia no combate ao crime. Tanta violência foi tão estimulada que aos olhos de alguns virou um mal necessário.
Os policiais que mataram o pequeno João agiram como se estivessem em um seriado policial, atirando primeiro e nem sequer dando uma oportunidade pra qualquer rendição ou indagação. Eles são um reflexo de como é a segurança pública no Brasil.
E o governo vem com um papo de "desculpas?"
Não dá pra aceitá-las!
Resta a mais uma família brasileira enlutada tentar se reerguer, recomeçar a vida, ainda que imersa na saudade do anjinho que foi tirado de forma absurda do nosso convívio.
E a nós, resta-nos o desabafo de um pai, que mesmo no auge da dor, soube encontrar forças para deixar-nos uma lição:

" Ninguém tem o direito de matar ninguém. O Estado não tem carta-branca pra matar ninguém. Aqui não tem pena de morte. Se esta instituição está falida, vamos melhorar a instituição, mas não botar um monstro na rua pra matar a gente".

Sábias e comoventes palavras.
Esperamos que as autoridades competentes(?) as tenham ouvido.

Gilberto Cardoso, professor de Língua portuguesa.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Com o dinheiro de Deus.

Há uma maldição na minha vida.
Que está minando minhas finanças e impedindo minha prosperidade.
Pelo menos é o que diz o tele-evangelista. O "devorador" consome tudo o que produzo porque sou infiel. Não importam minhas idas dominicais à Igreja ou minhas tentativas de ser um bom moço. Meu bolso precisa se exorcizado e devo deixar minhas riquezas terrenas e entregá-las à Igreja.
(Opa! Desculpa!). Entregá-las à Deus.
Mas o quê Deus vai fazer com elas?
Nada.O Real não vale no céu. Mas os representantes de Deus vão saber santificar meu dinheirinho imundo. E haja investimento eclesiástico. E pastoral também. Afinal de contas, um homem de Deus deve andar bem vestido, alinhado. E ficaria difícil se ocupar em apascentar as ovelhas, se o líder estivesse preocupado com suas finanças caseiras, particulares.
Ora, Deus é o dono de toda riqueza da Terra, logo seus filhos também o são. Pena que sua prole é pequena já que há tamanha miséria no mundo. Mas, a Igreja tem que se manter em um patamar acima disso. Templos suntuosos devem ser erguidos para refletir a glória do Todo-Poderoso. E é preciso enxergar a benção antes que ela se concretize , fazendo uma oferta financeira proporcional a quantidade de delitos praticados.
Hum... já vi vou gastar muito.
Até pensei em conversar com o evangelista da TV, mas desistir. Deus o enviou em uma viagem missionária para Miami com todas as despesas pagas e direito a acompanhantes. Tudo pra ajudar pessoas mais necessitadas.
Miami...
Acho que tô perdendo tempo no magistério.
Será que ainda há vagas para tele-evangelistas?


Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

E se Jesus comesse farinha seca?

José andava escabriado.
Maria tinha embuchado, mas o pobre coitado nem sequer ralou nela. Temendo pela vida, resolveu fugir pra não sentir o facão do pai da jovem. Antes disso, um cordel de anjos entrou na história.
" Ô, Zé! Se avexe não
O Sinhô tem um plano maior
Junte os trapos com Maria e jamais a deixe só."
E assim vingou Jesus no mundo. Era um bagurizinho singelo. Pele escura, queimada pelo sol. Olhos negros como a noite. Acostumado a beber leite de cabra, cresceu regado a muito camarão e arroz de cuxá. Mas também conheceu a dureza da vida sertaneja. Era um menino da roça , do arado. Manejava uma enxada como ninguém. Mas valia a pena, pois no final do dia uma piaba com farinha seca o esperava.
Enquanto crescia, se revoltava contra as misérias do sertão. Era tanta gente sofrida nesse chão, que não parava em casa. Saía por aí. Ajudando um aqui, outro acolá. Diziam que tinha uma mão santa. E não é que era mesmo? A fama correu pela região e vinha gente de longe só para vê-lo.
Já homem feito, resolveu escolher uns cabras bons para ajudá-lo. Tudo gente da terra e acostumados ao serviço. Apesar da pouca instrução, era habilidoso na palavra. Como todo nordestino, adorava contar causos. E neles mostrava todo o amor do Sinhô por esse povo sofrido.
Entretanto, O Tinhoso, O Coisa-Ruim tentou tirar Jesus do trabalho. Não deu nem pro cheiro. Jesus, o legítimo Filho do Santo, botou o Tinhoso para correr.
Eita, cabra arretado, esse Jesus!
E por isso, ele começou a incomodar.
Os coronéis da região, poderosos em dinheiro, resolveram calar Jesus. Sabiam que não dava pra comprá-lo. Decidiram passar a pexera nele, mas tudo dentro da lei.
Compraram o apoio do líder religioso da cidade e acusaram Jesus de "revolucionário", "revoltado".
E realmente, Jesus era isso. Ficava revoltado em ver tanta criança morrendo de fome, tanto político roubando dinheiro público, tanta miséria em uma terra tão produtiva. Mas, enfim, como você já sabe, ele foi preso, "julgado", condenado. Vitorioso sobre a morte, ressuscitou ao terceiro dia.
E pra alguns, virou ícone da cultura pop. Ficou loiro, adquiriu belos olhos claros, um perfil europeu estampado em vários lugares desde a idade média. Ficou "elitizado".
Tentaram tirar do Cristo o perfil de homem do povo e popularizar sua imagem burquesa.
Não deu certo.
Quer na região árida da Palestina, quer no sertão nordestino, Jesus sempre será um revolucionário, homem do povo que veio para todos. Sem distinção.
Ainda mais no Brasil. Tão cheio de fé. E, às vezes, na pessoa errada.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

São humanos com nossos direitos?

Odeio ter idéias atrasadas.
Rasgar a Constituição é uma delas. Quando pensei em fazer, nossos representantes fizeram na minha frente. Nem esse direito eu tenho.
É triste comprovar que somos uma terra sem leis. Já é até banal falar na violência das cidades. João Hélio e João Gabriel viraram marcas no coração do Brasil. Um país que não consegue cuidar do seu próprio futuro.
Quando sabemos das últimas notícias, uma onda de comoção nos atinge. E surte pouco efeito. A próxima tragédia vai nos abalar mais ainda. Vamos chorar, reclamar, dizer " como isso pôde acontecer?" E depois voltaremos ao mesmo ponto estático a que nos acostumamos.
O Brasil é assim.
Até no mais inóspito recanto do país, há uma sensação de insegurança, real e assustadora. E não existe dinheiro que traga de volta as vidas levadas pela violência.
Seria fácil colocar a culpa em nosso corrupto presidente e seus aliados interesseiros. Eles são culpados, mas foram colocados lá pelo voto popular. O mesmo povo que fica a mercê dos bandidos sem ternos, enquanto os engravatados estão seguros atrás dos muros de suas mansões.
É meio repetitivo afirmar isso, mas tudo começa no contexto político. A bagunça social que reina em nosso país teve origem lá. E a solução também.
O problema é que a massa de eleitores não tá nem aí pra isso. E o comércio eleitoral faz a festa nessa época do ano. Tudo isso porque em uma nação tão carente, física e emocionalmente, não se dá valor ao voto. Ele é moeda de troca. Vale uma sandália, uma cesta básica ou um cargo comissionado no próximo governo.
Assim é o Brasil.
A Constituição, que foi rasgada, garante uma montanha de benefícios aos cidadãos. Nenhum deles à disposição na prática.
Não são humanos com nossos direitos.
Na verdade, nem sei ao certo se são humanos.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa da Escola Padre Maurício.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Um Eduardo, Outra Mônica.

Eduardo abriu os olhos.
E dessa vez, quis logo se levantar.Não aguentava mais as loucuras da Mônica. No começo era tudo flores. Mas não avisaram dos espinhos. Os filhos já haviam crescido, os peitos já haviam caído. Onde estava aquela Mônica que tanto o encantou? Hoje era só reclamação pra cá, queixas pra lá. Nunca mais houve festa estranha com gente esquisita. Pensava em algo pra mudar a situação.
Enquanto isso, Mônica desistiu de tomar outro conhaque. Ele não ia ajudar mesmo. Seu príncipe tinha virado um sapo. Barrigudo, careca. O que fizeram com seu Eduardo? Trocaram-no por um sujeitinho mal-humorado, ranzinza. Ele nunca foi um exemplo de romantismo, mas piorou com o passar dos anos. Os gêmeos, já crescidos, eram a única certeza de felicidade que lhe restava. Pensava se ainda queria manter essa situação.
"E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?." Essa frase não saia da cabeça de Eduardo. Apaixonou-se muito cedo. Era tão novo, inexperiente. Deixou-se levar pelo coração. Queria poder voltar ao tempo do futebol de botão com seu avô. Tá certo que o relacionamento teve momentos maravilhosos, mas parece que eles desapareceram numa avalanche de situações ruins do cotidiano. Eram diferentes demais. Como àgua e óleo, não se encaixavam. Mas então, por que tanto tempo juntos?
"E quem irá dizer que não existe razão?" Mônica repetia para si essa frase. Sempre teve a cabeça no lugar. Mas ao conhecer Eduardo, a emoção tomou conta de si. Não eram nada parecidos, mas todos diziam que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz. E foi isso que manteve a união durante tanto tempo. E hoje ela se pergunta se valeu a pena.
Eduardo a olhou. Foi sincero e direto. A relação chegou ao fim e não adiantava ficar enganando a ambos. O divórcio os esperava.
Mônica o ouviu. Aprovou a sinceridade dele. Pensava o mesmo. Era melhor acabar aqui enquanto ainda podiam guardar boas lembranças de ambos.
O tempo passou. Renato compôs a música.
Eduardo a ouviu em um dos momentos em que curtia sua recente solteirice. Primeiro, achou engraçado. " Que coincidência", pensou. Em seguida, refletiu em sua própria história vivida até aqui. Estava querendo enganar a quem? Algo estava faltando. E sabia o que era. Resolveu agir. Qual o número dela mesmo?
Mônica estava espantada. Acabara de ouvir sua história musicada. Pensou na decisão que havia tomado. E não estava conseguindo enganar a ninguém. Sentia falta do seu oposto indispensável. E iria lutar pra tê-lo de novo. Custe o que custar.
O telefone tocou.
Era Eduardo.


Gilberto Cardoso, em homenagem a maior banda de rock do país, a Legião Urbana.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A moda me incomoda.

Andar na moda. Estar na moda. Sair na moda. Ficar na moda.
Puxa! Como é difícil ser Fashion. Exige sacrifícios e é preciso seguir as tendências da estação. Tudo para ser notado,entrevistado, glamourizado.
Existirá prazer maior do que ser flagrado pelas lentes de um fotógrafo? Ou ver seu rosto estampado em capas de grandes revistas? Se esxistir, ainda é desconhecido.
Os 15 minutos de fana foram sociabilizados. Todos os querem. E fazem de tudo para alcançá-lo. Talento? Pra quê? No mundo de hoje, basta ter certas proporções físicas bem avantajadas para sair do anonimato.
É a moda. Aquilo que todo mundo tá falando ou tá fazendo é o que você deveria fazer ou falar.
Mas... por quê?
Tudo se resume a uma palavra: padrão!
O padrão está em todo lugar. Dizendo o que você tem que usar, falar, ser. Tornando-o "igual" a todos. Pelo menos, no lado de fora. Padronizar algo é arrancar as diversidades existentes no ser humano. É tentar eliminar o diferente, o diverso. É andar na contra-mão da nossa própria natureza.
A humanidade é diversa. E isso é o que nos torna tão ricos culturalmente. É um crime tentar "unificar" a sociedade desse modo.
Estar fora do padrão. É assim que deviamos estar. Pelo menos é o que acredito.
O problema é que vão te colocar à margem por causa disso. Você vira um marginal. Não no nível de Lula, é claro.
Mas o que vale mais? O que você é ou o que querem que você seja?


Gilberto Cardoso, professor da Escola Padre Maurício e estudante de Letras da UEMA.

Perdendo a piada.

Por que razão fazemos piada de tudo e de todos? Existe algum problema no tipo de humor sarcástico e de conotação sexual praticado nos programas brasileiros? E afinal de contas, é melhor perder o amigo, mas não perder a piada?
Se levarmos em conta as mazelas do país, não haveria motivos pra tanto riso. Entretanto, o humor funciona como uma válvula de escape ao justificar a tese de que " o brasileiro rir de suas próprias desgraças".
No entanto, isso não valida as piadas preconceituosas e imorais usadas para sustentar audiência. Ao zombarmos dos outros por causa de suas características, origem ou opção sexual, deixamos de lado o amor ao próximo, o respeito ao próximo.
Por essa razão, é melhor perder a piada.
O humor sadio faz bem ao corpo, a alma e não humilha ou alimenta idéias absurdas originadas no processo colonizador que ainda sofremos.
E desta triste realidade não dá vontade de rir.

Gilberto Nunes, professor da Escola Padre Maurício e estudante de Letras da UEMA.

Passa o cartão?

Uma coisa é certa sobre o Desgoverno Lula: sempre haverá um escândalo para estampar as capas dos jornais. No último, o abuso do cartão de crédito corporativo, caiu mais uma ministra. Assim como caiu a capa de " ética " usada pelo governo.
Ainda que o mau uso do dinheiro público por parte dos nossos representantes não seja novidade ou exclusividade da gestão atual, o que espanta é a facilidade em se arranjar desculpas para justificar os gastos excessivos.
Entretanto, com tanta miséria espalhada pelo país, causa revolta perceber o grande volume de dinheiro gasto em "despesas públicas" que não trazem benefício algum à população.
E o povo?
O povo tem que se contentar com o "Bolsa - Esmola".
Se uma atitude séria não for tomada por órgãos responsáveis pela fiscalização do uso indevido do dinheiro público, muitos cartões continuarão passando. E levando com eles a possibilidade de vida melhor para muitos.

Gilberto Cardoso, professor da Escola Padre Maurício e estudante de Letras da UEMA.

Não é a bala que está perdida!

Do nascimento até agora, ela foi definida com propósitos.
Tinha um caminho já traçado. Não podia negar sua origem. Teve uma vida dura. Forjada a ferro e a fogo. E sempre, durante toda a existência, foi usada. Homens gananciosos a vendiam, exploravam. Passou de mão em mão, sendo vista como uma mercadoria de valor. Até que um dia encontrou seu destino... na cabeça de alguém.
Foi retirada rapidamente, presa e levada a julgamento.
Tentou argumentar inocência, mas sua causa era perdida. Sem argumentação para a defesa, foi condenada a uma morte em vida. Odiada por todos sem nunca entender o porquê.
E sua história não é única. Há muitos como ela em nosso meio.
Por isso estamos perdidos. E vamos continuar.
Em nossa guerra cívil não declarada, onde todos somos vítimas em potencial, sempre haverá uma bala destinada a alguém, com um nome gravado na memória, à procura de um lugar pra descanso. Descanso esse que inesperadamente alcançará pessoas possuidoras de planos, objetivos, sonhos.
Todos encurtados pela ação de uma bala, perdida, em uma sociedade mais ainda.

Gilberto Nunes, professor da Escola Padre Maurício e Estudante de Letras da UEMA.