segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Por alguns segundos apenas.

Hoje, me sinto bastante incomodado.
Um aluno, geralmente maduro e com cabeça no lugar, cometeu um erro que poderia ter consequências maiores não fosse a provisão de Deus.
E o que me incomodou não foi o erro em si, já que como somos humanos somos sujeitos a cometê-los. O que mexeu comigo foi a fração de segundos em que uma decisão errada é tomada e as consequências que advêm dela. O que aconteceu com o menino citado acima é apenas uma prova de que ações impulsivas podem trazer problemas a todos. E tudo em segundos apenas.
Deixamos que as emoções tomem conta, substituímos a razão e pronto. Erro cometido, mas que poderia ser evitado.
Hoje, um problema maior foi evitado, mas quem garante que amanhã vai ser assim?
Nossa geração é estimulada a violência constante, quer por filmes, quer por desenhos ou quaisquer outros programas de televisão. E o que nós, Pais e Educadores, fazemos? Ou devemos fazer?
Ficar parados observando a vida passar? Lamentar a atitude perniciosa de nossa juventude? Ou simplesmente lavar as mãos?
Penso de outro modo.
Ensino adolescentes na faixa dos 12 aos 15 anos e sei que eles podem gerar resultados excelentes se forem estimulados a tanto. Podem fazer maravilhas se forem bem orientados. Mas também são capazes de atos terríveis, como qualquer outro ser humano , se forem deixados sem orientação, sem um guia para direcionar a vida. Daí, a grande importância do diálogo. Especialmente, nessa faixa de idade. É através do diálogo que podemos resolver diferenças, construir caminhos, quebrar barreiras. Há muitos meninos e meninas por aí que só esperam uma oportunidade para falar, para ouvir. Para sentir-se amado ou amada.
Criancas que são amadas geram tornam-se adultos amorosos. E isso é fato comprovado.
Conversando com meu aluno, deu pra perceber aquele brilho nos olhos típico de alguém arrependido, mas com dificuldade de reconhecer o erro. E naquele momento, uma convicção veio em minha mente: eu amo o ensino. É por isso que sou um educador. O salário nunca vai ser dos melhores, mas não há dinheiro no mundo que pague a sensação de ajudar alguém, de dar apoio a alguém. De mostrar que sempre existe uma outra opção, além daquela que nos é mostrada pela sociedade desigual em que estamos inseridos.
Acredito que meu querido amigo aprendeu uma lição hoje. Talvez seja difícil colocá-la em prática, mas o crescimento humano começa pela conscientização do que nós somos e do que podemos ser. E alguns segundos podem fazer a diferença, mas também podem ser a linha divisória entre a imaturidade e o amadurecimento.
Que Deus abençõe para que o segundo sempre reine sobre a primeira.


Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

sábado, 9 de agosto de 2008

A Prova não prova... mas aprova. E reprova!

Começou a temporada de caça. Caça às notas.
E é cada um por si e a "pesca por todos. Ao menos, é assim que funciona na maioria das escolas.
Por quê?
Não é complicado achar uma resposta. Quando a Educação("trazer para fora") é trocada pelo ensino("de fora para dentro"), o que fica é a sensação do Não-Saber. Não sabendo, você abraça a decoreba. Decoreba que é descartável, limitada e que não desenvolve a mente.
Ela rende aprovação, mas não traz conhecimento.
Entretanto quem está preocupado em obter conhecimento? O que importa é a nota! Você nota?
Compreende o que permanece por trás dessa maneira de pensar, de ensinar?
Essa prática gera "alunos", pessoas sem luz que precisam de notas padronizadas por um sistema educacional para se sentirem completos.
Entenda bem. O problema em si não é a prática da avaliação, mas a maneira como ela é encarada por professores e alunos. Ela não deve ser tábua de salvação para os estudantes e nem deve ser instrumento de punição para o professor usar no controle da turma.
Ela é parte de um processo educacional realizado diariamente na sala de aula.
Não deveria existir um "tempo de provas". Essa prática só condiciona as pessoas a serem "alunos". Pense um pouco e liberte-se da "tirania das notas".
Tenha cada aula como uma oportunidade de crescimento e os resultados esperados virão como consequência.
Enquanto uma mudança da atitude não acontecer, provas irão continuar aprovando, reprovando e condicionando. Fazendo com que você tire "dez" e coloque "zero" no tão precioso depósito, que é sua mente.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

domingo, 3 de agosto de 2008

Será que ele é??? E se for, muda alguma coisa???

Sabe aquele talentoso galã da novela das oito? O cara corta dos dois lados
E aquele carismático apresentador da TV? Descobriram recentemente que ele é muito "delicado".
Sim, mas e daí?
Desde quando opção sexual interfere na capacitação profissional ou no talento de alguém?
Sabemos que não. Porém o que mais se vê é esta associação equivocada.
E isso tem nome: preconceito. Que se não for contido, vira homofobia. O que independentemente da crença religiosa não é algo bom
O preconceito sexual é apenas mais uma faceta de um velho problema da humanidade : a falta de tolerância para o que é diferente .
Sempre defendemos uma bandeira. A bandeira do respeito para com tudo e para com todos.
E respeitar não é necessariamente concordar. Mas sim procurar entender quem pensa ou age diferente de nós.
A intolerância manda que minha crença, meu modo de pensar sejam impostos a todos. O bom senso ensina que o Outro tem direito de pensar diferente de mim e eu tenho o dever de respeitar esse direito.
E por mais difícil que seja para alguns aceitarem este fato, não somos Deus. Somos criação dEle. Todos nós.
E cabe a Ele julga o que fizemos ou deixamos de fazer

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

Não quero virar estatística!

Números. Estamos cercados de números por toda parte. E eles não são nada animadores.
O trabalho infantil cresce assustadoramente. Milhões de crianças ainda estão fora dos bancos escolares. E a violência de nossas grandes cidades assemelha-se a de países que vivem em constante guerra civil. Tudo isso pode ser resumido em números. Números que mostram a dura realidade brasileira
Mas eu não quero virar estatística. Ninguém quer.
Estatísticas são frias, desumanas até. São números que representam vidas, que por alguma razão, forma encurtadas. Por trás de cada algarismo, há uma história de vida.
É interessante notar que não percebemos isso. Olhamos para os números e só vemos... números!
Algo até compreensível dada a falta de sensibilidade dos nossos tempos modernos.
Mas vejam só a história de Roberto. Um jovem pai de família. Trabalhador honesto. Cumpridor de seus deveres cívicos. Morto por uma bala perdida.
Roberto tinha uma vida, uma história. Virou um número. Mais um componente de uma enorme lista ( que cresce a cada dia) que mostra o tamanho do caos da violência no país.
E Roberto vai continuar sendo um número, até o momento que você se aproxima e vê as coisas mais de perto. E descobre as vidas por trás dos números.
Eu não quero virar estatística.
Mas sei que sou sujeito a ser uma, enquanto os governantes desta Nação continuarem a tratar o povo como números de uma lista. Lista bastante usada em épocas eleitorais para manipular a massa de votantes desconhecedores da própria realidade que os cercam. Realidade que transmutada em números revela quão dura é a vida em um país em que pessoas nada mais são do que futuras estatísticas.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

O homem dentro do sistema.

E aí? Capitalismo ou Socialismo? Com quem você vai?
Olha que a disputa é antiga. De um lado os amantes do Capital. Do outro, os sonhadores defensores do bem comum.
Mas quem matou mais?
É difícil contabilizar. Ambos, "capitalistas" e "socialistas" são culpados por uma longa lista de genocídios, de forma direta ou indireta. E que matou não foram as idéias. Foram os homens por trás delas.
Idéias são abstratas. Não podem ferir. Homens, ao contrário, matam idéias. E pessoas também.
Acredito no Socialismo. Não na tentativa ditatorial da Ex-União Soviética ou do absurdo do governo Chinês. Creio no valor das idéias socialistas de Marx e outros que sonharam e sonham com um mundo mais justo, igualitário. Ainda que nenhuma nação tenha conseguido colocá-la em prática, a visão socialista é possível.
Por outro lado, há necessidade do Capitalismo. Não o selvagem, descontrolado do nosso tempo atual. Mas sim, o equilibrado, que gere competição igualitária. Embora alguns achem que isso é impossível.
Ao meu ver, o problema está no homem. Ele é o problema.
O homem dentro do sistema( qualquer um dos dois) é que comete atrocidades que chocam a todos. Por isso que mudar o modo de produção do país não adianta enquanto não se muda os homens por trás dele.
É até irônico ver os dois lados disputando pra ver quem é o melhor. Ou o pior. Mas no final das contas, são todos iguais. Somos todos iguais. Com nossas dores e amores. Sonhos e temores.
E vemos a imagem do oposto refletida em nosso espelho.

Gilberto Cardoso.

Sem anos de solidão.

Em um ato de sincera admiração, tomei emprestado o título da obra do fantástico Gabriel García Marquez. Uma simples troca de letra vai servir. García Marquez contou a envolvente saga da família Buendía. E ganhou um Nobel por isso. Minhas pretensões são menores, é claro. Mas o empréstimo serve para pensarmos sobre nossa vida em sociedade.
Há uma reclamação constante em nosso meio. A de sentir-se só apesar da grande multidão ao lado. A solidão é um mal que acomete sem fazer distinção de idade ou classe social. É estimulada pelo individualismo crescente dos nossos tempos. É o "cada um por si" que não consegue mais satisfazer nosso desejo interior de estar junto ao outro. Todos temos essa carência do próximo. A tecnologia atual, por mais contraditório que possa parecer, pode acabar por separar em vez de nos unir.
Nada deve substituir o toque, o ver nos olhos, o abraçar alguém. Isso é estar vivo. É viver. É vida.
E a vida é pra ser vivida na coletividade. E sem anos de solidão.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

As Prateleiras do Mercado.

Somos produtos no mercado.
Eles se aproximam. Olham pra nós. Analisam a embalagem. E nos levam embora.
Assim é no Mercado de Trabalho.
Sempre cismei com essa expressão. "Mercado de Trabalho". Na minha mente vem a imagem de imensas prateleiras, carregadas de produtos. Todos com alta qualidade e preparados para o consumo. Todos à espera de compradores.
Mas minha cisma não adianta muito. Também faço parte deste mercado. O que incomoda é ser um "produto". Produtos não têm vida. Não têm sonhos. Não têm um futuro. São utéis até o momento em que cumprem sua função. Depois são descartados. Trocados por outros.
Como educadores que somos nossa função é orientar as novas gerações. Prepará-las para a vida futura. Não são "produtos" em potencial. São pessoas que ensinadas de modo adequado, humanitário, farão parte da sociedade como agentes modificadores e não somente produtos em uma prateleira.
Educação para a vida deve ser prioridade em nossas escolas. Ensinar o valor da honestidade, da solidariedade, do amor ao próximo é fundamental para uma visão de vida mais afinada com o mundo que queremos. Ou deveríamos querer.
Entretanto, é interessante notar como somos levados a pensar de outro modo. Desde pequenos, a visão do "cada um por si" é jogada para nós. Ajudar o colega ao lado? Nem pensar! Ele é meu concorrente e pode pegar meu lugar.
É disso que estamos falando. Essa visão movida pelo modo de produção capitalista transforma todos nós em adversários uns dos outros.
Só o Mercado é que sai ganhando desse modo. As pessoas não.
Infelizmente, as prateleiras do Mercado sempre vão existir. E você sempre será visto como um produto à disposição.
Porém, a vida é muito mais do que isso.
E você é muito mais do que uma mercadoria à venda nesse imenso Mercado que nos cerca.