domingo, 13 de julho de 2008

E eles é que são os mocinhos?!

Foi-se o tempo em que para alavancar a audiência de um programa ou para lucrar em cima de uma película apelava-se para tórridas cenas de sexo. Todo mundo topava agüentar alguns minutos de trama desconexa, se ao final , fosse recompensado ao ver os "dotes artísticos" da siliconada da vez. Mas isso é passado. O carro-chefe de nossa cultura de entretenimento atual é a realidade nua, crua e violenta. Com bastante ênfase na violência. Quanto mais sangue, balas perdidas, crueldades dignas do inferno e sangue( novamente) aparecerem melhor. Melhor para os cofres dos produtores, é claro.
E entre tantas realistas-oportunistas, ainda dá pra achar uma pérola que vale a pena o valor da entrada e as quase duas horas dedicadas para assisti-la. Refiro-me a "Tropa de Elite" do diretor José Padilha ( autor do também ótimo "Ônibus 174". Assista se puder).
O filme virou um fenômeno, não só pelo elenco afiado, mas por trazer o BOPE para a boca do povo, ao mostrar policiais que primam pela honestidade e combatem a violência absurda dos morros cariocas com mais violência ainda.
E há algum mal nisso?
Vivemos em um mundo nem branco, nem preto. Mas cinza. Assim como no filme, é difícil definir quem é mocinho e quem é bandido se ambos usam os mesmos métodos. É claro que a violência não deve ser combatida com flores, mas até quando vai prevalecer no país a lei do "atire primeiro, pergunte depois?"
É fácil para nós olharmos as ações duras da polícia e aplaudirmos de pé. Não vivemos essa realidade. Agora, pergunte a algum morador de favela carioca ou de comunidade carente de qualquer parte do país, que já foi vítima de violência policial ou de bala perdida, o que ele acha do método " violência contra violência."
É preocupante perceber que boa parte dos nossos jovens estão inseridos de tal modo nesse contexto que transformaram o símbolo do BOPE em um dos mais copiados da internet.
Estamos perdendo a guerra contra a violência , uma vez que cedemos a ela. É preciso fazer algo para transformar essa realidade. Ações práticas e não atitudes utópicas. Passeatas pela paz chamam atenção, mas são de pouca utilidade. O que vale mesmo é a união popular pela cobrança de políticas públicas por parte de nossos governantes.
É por aí que a mudança se origina. Sem falar que a Educação deve virar prioridade em cada canto deste país. E falamos de um processo educacional contínuo que estimule a crítica, a produção de pensamento livre, sem amarras ou alienações do sistema desigual em que estamos inseridos.
E quando assistir a "Tropa de Elite", assista até o final. Ele não é um elogio a violência, mas sim uma constatação do quão cinza é o mundo ao nosso redor.

Gilberto Cardoso, professor de Língua Portuguesa.

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