domingo, 4 de maio de 2008

Dez cobriram o Brasil.

No princípio, a nação era produtiva e quase vazia. Então disse o colonizador: "Agora, tudo isto é meu". E foi o que aconteceu. Os primeiros moradores tentaram desbancar os novos inquilinos, mas o argumentos das armas foi mais enfático. Ou seria "enfártico?"
Entretanto, pra não dá bandeira( além da portuguesa) era preciso cobrir os fatos. Dez cobridores foram criados.
A política foi a peça chave. Através dela , cobriu-se a boa vontade daqueles que querem mudar algo, com o discurso do "isso tudo é sujeira".
Com argumentos assim, cobrir a educação até que foi fácil. E necessário. Um povo instruído é séria ameaça para nossos inquilinos.
E para não espantar a frequesia, escondamos a miséria. A pobreza é feia, suja, causa mal-estar. Abençoado seja o craidor dos sacos de lixo.
E, pro povo não reclamar, usemos o cobertor esportivo. Fala sério. É paixão nacional, orgulho patriótico, ainda que os "ronaldinhos" sejam escassos. E daí? O que vale mesmo é gritar "é campeão! Não importa de quê. Mas isso nós somos.
E os gritos viram embalos. E para não sair do compasso, cubra a música , por favor! Não invente. Não tente ser diferente. Pra que a inovação? Copiemos . E sem tradução. A língua dos gringos é "mais melhor de bom".
Tudo ia bem, mas começaram a reclamar. Pode? Êta, povinho ingrato. E pra não marcar bobeira, vamos levantar "poeeiraaaa", cobrindo com bastante folia nossa ilha da fantasia. E olha que isso aqui tá muito bom. Isso aqui tá bom demais. Olha quem tá fora quer entrar e quem tá dentro não saí.
Mas, não é que alguns resolveram sair? Ou melhor, foram expulsos por uma tal de "realidade". Sempre ela . Criaturinha mais teimosa. Ela aponta para a ausência de empregos.
Aí, você já sabe né? "Vamos cobrir em outro lugar, baby. Vamos cobrir".
Com as mazelas escondidas, vamos lidar com a realidade. Ser "amigo" dela. Retratá-la com a nossa câmera. Agora você pode tentar se vê na TV. Não repare se for um pouco difícil. A TV também foi coberta, pois como se sabe " a programação existe pra manter você na frente da TV. Que é pra te entreter, que é pra você não vê que o programado é você.
Mas, esse papo não é novidade. Assim como também não é novo o cobertor religioso. Lembra? Os primeiros "inquilinos" usaram a fé como instrumento de dominação, colonização. E pra alguns isso continua até hoje.
A cobertura do Brasil é tão bem feita que não se percebe a cobertura da consciência. Pois é. Nossa consciência também foi coberta. Só assim pra entender como séculos passaram e o país nunca foi descoberto de verdade.
È preciso descobrir o Brasil. Não o país dos livros "didáticos", dos discursos políticos. Mas sim, o país real. Aquele cheio de falhas, problemas e ,ao mesmo tempo, com soluções tão próximas.
Podemos comemorar o descobrimento?
Podemos. Mas pra valer, só quando ele acontecer.

Gilberto Cardoso, professor de língua portuguesa da Escola padre Maurício

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